Neste momento, os dias parecem-me demorar semanas a passar - habituei-me tanto a ti em tão pouco tempo que me esqueci, em menos de nada, de como era acordar e não te ter na minha vida.
Dizer que lamento adianta? Dizer que estou arrependida adianta? Sei que não dás muito valor à palavra dita, e menos ainda à escrita, mas neste momento esta é a única ponte que ainda existe entre nós, e eu recuso-me a deixá-la ruir sem tentar que me ouças. Ou que me expliques o que se passou realmente. Por isso sim, lamento tudo o que disse e não podia estar mais arrependida. Eu disse-te que era uma cabra, lembraste? Era a isto que me referia. Ataco, sem pensar duas vezes, assim que me sinto ameaçada. E tu representavas um perigo enorme para mim.
Desde que desapareceste dos meus dias que eu vivo em sobressalto; uma mensagem, uma chamada, e o meu coração dispara - mas nunca és tu. Do outro lado, nunca é a tua voz, nunca são as tuas palavras, nunca são notícias tuas, e eu começo a estar cada vez mais consciente de que já não te importas. Isso magoa-me tanto, mas tanto!
Se houve alguma coisa que me ensinaste é que ainda há pessoas que valem a pena. Ainda há pessoas por quem vale a pena derreter, afinal. Ainda há pessoas de quem não se pode desistir sem oferecer resistência, e tu és uma delas - e aqui estou eu, a escrever isto a meio da noite, sem saber ao certo em que momento terei coragem de o enviar, mas certa de que o quero fazer. E não vou desistir, aviso-te já. Hás de receber tantas cartas minhas quantas me apetecer escrever, até que alguma delas te sirva de motivo para reagir. Ou até que entendas que estava a ser sincera.
Nunca te disse isto, mas passava a vida a perguntar-me quem é que teria sido suficientemente anormal para te fazer tanto mal. Para te perder. Um dia, tive a minha resposta - eu também o fiz. Desculpa. Devia ter-te avisado de que eu sou uma coleção interminável de problemas, mas tive medo de que desistisses de tentar resolver o quebra-cabeças em que os anos me foram transformando. À medida que te ia conhecendo, comecei a achar que poderias ser a chave. Queria que o fosses.
Lembro-me muitas vezes de ti. Da forma como te rias, dos momentos em que me parecias um puto indefeso e do quão adorável eu achava o amor que tens por essa cadela. Do quanto eu me surpreendia todos os dias, quando, como sempre, eu pensava o pior e, mais uma vez, tu me davas uma lambada de luva branca. De como foste a única pessoa em quem eu consegui confiar desde o início.
Estou certa de que já não pensas em mim como eu penso em ti, mas aprendi com o tempo que dizer o que sentimos por alguém é um dos presentes mais preciosos que lhe podemos dar - e eu sinto a tua falta. Todos os dias.
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