Durante anos, fugi a sete pés daquilo que sentia. Enterrava-o bem fundo, não confessava por nada deste mundo; quanto mais gostava de alguém, pior o tratava. Só descansava quando tinha conseguido fazê-lo detestar-me o suficiente para que nunca entendesse o quanto eu gostava dele; só há pouco tempo me apercebi exatamente do porquê: a ideia de que sou diferente estava de tal modo enraizada em mim, que eu me sentia indigna de sentir o que quer que fosse por alguém. Ou, pelo menos, indigna de o dizer, porque alguém como eu não devia ousar gostar de um rapaz normal. Parece-te ridículo? Provavelmente, sim. Ridículo e exagerado, mas é isto que acontece quando passam a vida a dizer-te que és diferente: acreditas. E sofres com isso.
Em parte, é a isto que me refiro quando digo que não reconhecerias a pessoa que eu era antes de te encontrar - não foi a primeira vez que disse a alguém o que sentia, mas é a primeira vez que não desisto três segundos depois de o fazer. É a primeira vez que vou atrás - um dia apercebi-me de que já me cruzei com pessoas incríveis e que nunca mexi um dedo para lhes mostrar que as queria na minha vida e que, aliás, na maior parte do tempo, eu fazia de tudo para que elas nem se apercebessem disso mesmo. Quando me apercebi de que também te estavas a ir embora, fiquei com medo; apercebi-me de que era mais ou menos provável de que, daqui a uns tempos, desse por mim sem conseguir dormir, às cinco da manhã, a perguntar-me como que raio consegui ser tão estúpida ao ponto de nem ter ido atrás de ti. Porque é isso mesmo: eu quero que fiques. E vou continuar a dizê-lo, mesmo que não queiras ficar; trata-se, pela primeira vez, do que eu sinto, unicamente.
O meu maior medo era que encontrasses alguém melhor do que eu e te esquecesses de mim. Agora já não é um medo - é uma realidade. E digo mais: eu também vou encontrar pessoas melhores do que tu. Outra das coisas que compreendi é que isso está longe de ser o mais importante - em primeiro lugar, porque a distância sabota os defeitos e fazem-nos parecer menores e, em segundo lugar, porque eu tenho uma tendência desastrosa para preferir o que me faz mal. Posso cruzar-me com um milhão de pessoas melhores do que tu, posso até apaixonar-me por elas, posso criar mil vezes mais memórias do que aquelas que criei contigo e, ainda assim, acordar um dia e sentir a tua falta. Perceber que, por mais virtudes que qualquer outra pessoa tenha, ela não és tu e, só por isso, não é a ela que eu quero ao meu lado. Entendes o que te estou a tentar dizer? Ninguém é feito para nós por encomenda e vai sempre haver coisas de que não gostamos nelas - mas, mesmo assim, somos capazes de as amar loucamente durante uma vida inteira. Por isso, já não me assusta que encontres alguém melhor - assusta-me não te conseguir marcar o suficiente para que, no fim do dia, seja de mim que te lembres. Para mim que queres voltar.
Sempre me pareceste demasiado bom para mim - palavra de honra. Dei por mim a perguntar-me, vezes e vezes sem conta, como é que alguém como tu tinha olhado duas vezes para mim. Como é que era possível que não compreendesses que eu não valia nada. Honestamente, não me surpreende que te tenhas cansado - mas lamento, porque eu nunca fui capaz de me fartar de ti.
Tenho saudades tuas. Quantas vezes é que me é permitido dizê-lo? Se houver um limite, desculpa - estou mais ou menos certa de que já o devo ter ultrapassado há muito, mas não quero que te esqueças disso. Tenho saudades até das noites em que já estava a morrer de sono mas tu não me deixavas dormir porque me querias ligar mais uma vez. Pudesse eu voltar lá - a essa altura em que eu aprendi que dizer xau antes de ir dormir era um ato de pura maldade, porque não havia nada melhor do que adormecer depois de um até amanhã. Não havia nada melhor do que a certeza de que ainda lá estarias no dia seguinte.
Sem comentários:
Enviar um comentário