Vivemos na ilusão de que o tempo é a resposta para tudo. De que o tempo cura tudo. Bem - não cura. Pode amenizar dores e atenuar paixões, mas não acaba com nada que tenha sido deixado pendente. O nosso mal é contentar-mo-nos com um ponto e vírgula e fingirmos para nós próprios, dia após dia, que pode ter o valor de ponto final, e nem nos apercebemos de que continuamos a remoer no mesmo assunto. De que insistimos em bater na mesma tecla.
Se, daqui a muitos anos, retomares essa mesma história, ela vai estar no ponto onde a deixaste, independentemente do tempo que tenha passado. Talvez te doa menos, mas também te pode doer o dobro. Nunca podes afirmar no presente o que te vai ou não trazer arrependimentos no futuro. Às vezes, as decisões mais loucas levam-nos para o abismo. Outras vezes, trazem-nos uma felicidade que nos seria, possivelmente, para sempre desconhecida se não tivéssemos arriscado. O que custa é sempre a escolha - porque temos medo de ser felizes, porque preferimos ficar onde sabemos que teremos sempre um lugar confortável.
Custa-me ver-te agir como se fosses do dono do tempo. Como se não te pesasse a passagem dos dias e a certeza de que, chegado ao fim, todas as tuas hipóteses se acabaram. Não compreendo do que é que estás à espera - meu amor, o tempo esgota-se ou a pessoa cansa-se de esperar. Se queres falar, fala já. Corre, antes que a coragem te passe, e diz tudo antes de saberes o que queres dizer. Às vezes, vale mesmo mais não pensar e deixar que sejam os sentimentos a falar por si.
Se queres mesmo, despacha-te. Faz o que tens a fazer antes que ela se canse do impasse em que deixaste a vida dela. E talvez nem resulte - talvez ela não te perdoe - mas precisas de o ouvir da boca dela. Precisas de a ouvir contar-te sobre o quão idiota foste com ela, para ver se aprendes. Para ver se percebes, de uma vez por todas. Mas, se não quiseres, fica aí e não faças nada. Deixa-a ir embora. Talvez nem lhe sintas a falta - ou talvez percebas que nunca nada no mundo vai ser o mesmo sem ela.
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