[faz hoje um mês. odeio este meu lado que parece ter uma tendência enorme para lembrar tudo o que devia estar mais do que esquecido - mas é-me impossível não pensar que faz hoje um mês que eu descobri. ou desconfiei. antes não tivesse acontecido. nem eu vos saberia dizer como é que fui capaz de não perceber que havia algo de errado no meu peito de cada vez que ele se aproximava, de cada vez que ficávamos sozinhos, de cada vez que falávamos sobre nada. não sei como não percebi logo que todo o meu entusiasmo à volta de ir passar a noite com ele era muito mais do que amizade - mas, se calhar, se não tivesse havido um contratempo que arruinou tudo e ele acabou por não ir, ainda hoje acharia que era apenas isso mesmo. mas não era. descobri-o nessa noite, faz hoje um mês. estava tudo bem até ter ouvido a voz dele ao telemóvel a dizer que não podia ir - sinceramente, quase me apeteceu chorar. fiz de conta que era só raiva por ele não ter dito antes, mas era bem mais do que isso - estava desapontada porque eu o queria lá. e passei a noite inteira a pensar nele; se ele tivesse ido, ter-se-ia sentado ao meu lado ao jantar. se ele tivesse ido, teria ocupado a cadeira ao meu lado no cinema. se ele tivesse ido, teria passado o filme todo encostado a mim no sofá. se ele tivesse ido... teríamos dormido juntos. quase não preguei olho a noite toda. fiquei tão assustada quando percebi o que estava a sentir, que demorei quase duas semanas a contar a alguém. e daí para cá, tem acontecido tudo tão depressa e, ao mesmo tempo, parecem ter passado mil anos - custa-me a crer que só agora tenha passado um mês. pudesse eu voltar atrás, pudesse eu ter descoberto a tempo ou não ter descoberto de todo. não sei o que aconteceu, não sei como aconteceu, mas agora parece que só resta dor, que só resta arrependimento, desapontamento. a culpa é minha desta vez. a culpa é toda minha. tivesse eu percebido antes.]
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