Este é provavelmente um ato de pura maldade mas eu acabei de encontrar este texto, por mero acaso, no fb e deixou-me a chorar baba e ranho. Quero fazer-vos puxar pelo lencinho também.
Para vos contextualizar: isto foi escrito por um rapaz que perdeu a namorada há precisamente um ano. Podem começar a chorar a partir de agora:
Um ano.
Faz hoje um ano que falaste comigo pela última vez.
Que ouvi a tua voz.
Que grande parte de mim adormeceu, contigo.
Esta é uma semana de muito aperto, mas se há momento que me amarrotou o coração, foi este.
Fui buscar as tuas coisas ao teu quarto em Évora, levantei a capa do teu iPad e vi as minhas mensagens... Por responder.
Casas...
Passei o dia a enviar-te casas para vermos.
As horas foram passando e eu comecei a estranhar o teu silêncio.
Enviei-te mensagens para o telemóvel, para o e-mail, para o facebook, liguei-te e nada!
Nada, Carolina... Nada!
Assim que desses sinal de vida ia mandar vir tanto contigo! Cheguei até a ensaiar o sermão na minha cabeça.
Quando fui para a cama, pus o som do telefone no máximo e deixei-o ao lado da almofada.
Nessa noite a ansiedade já se tinha instalado como se sentisse que algo de mau tivesse acontecido.
Acordei várias vezes durante a noite e de cada vez que acordava tentava ligar-te.
Liguei-te tantas vezes que acabei com a bateria do teu telefone.
Na manhã seguinte ainda não tinhas dito nada.
Foi aí que comecei a virar o mundo do avesso.
"Assaltei-te" o facebook, enviei mensagens às tuas pessoas de Évora, perguntei por ti nos vossos grupos e nada. Ninguém sabia de ti desde domingo à noite e já era terça-feira.
Foi aí, quando me disseram que não tinhas ido às aulas, que tive a certeza que te tinha acontecido alguma coisa. Restava saber o quê...
Nesse momento quis com todas as minhas forças que estivesses em casa porque não suportaria a ideia de que alguém te pudesse ter feito mal.
De cada pessoa que me dizia que ia a tua casa só recebia silêncio.
E foi esse silêncio que amplificou a minha ansiedade.
Se já sentia, aí tive a certeza.
Só precisava que me dissessem.
"Pedro... Já não tens namorada."
Um ano depois, escolhi estar sozinho.
Escolhi enfrentar o espelho deste quarto de hotel, sabendo que não te vou ver nele.
Que não vais aparecer por cima do meu ombro e embrulhar-me num abraço quente.
Que não vamos lutar por um lugar no lavatório.
Que não vais chatear-me por demorar, por deixar a roupa no chão, por não ter lavado a cara, por te apertar, por invadir a tua metade da cama, por me mexer e não te deixar dormir, por adormecer antes de ti... Chata do caraças!
E eu dava tudo para que me chateasses todos os dias até a vida ter dias para nós.
E nestes 365 dias não houve um único em que não desejasse mandar vir contigo.
Por demorares a responder, por seres ciumenta e injusta.
Por deixares os produtos com a tampa aberta.
Por te enrolares nos lençóis da cama e me destapares.
Por tudo. Por nada. Mas ter-te.
Para que continuasses a testar-me a paciência dia após dia.
Para que continuasses a ser a chata do caraças que sempre foste.
A chata do caraças que fez com que eu nunca mais me sentisse sozinho.
A chata do caraças que escolheu amar-me para sempre.
A minha casa.
Minha Tendonzinha!
Quando reparo na miúda gira que passa do outro lado da rua (provavelmente loira), dou por mim a pensar se um ano foi capaz de mudar o que sinto por ti.
Se continuo apaixonado. Se me consegui desprender de tudo o que é físico e guardar-te em mim.
É aí que paro.
Paro e penso no que faria se me aparecesses à frente agora.
E aí percebo que não te quero menos um ano depois.
Que ainda sei de cor o sermão que preparei para ti.
Que és a chata do caraças que amo.
E que quero ficar do teu lado do passeio.
Mas hoje sou só eu e um quarto de hotel.
Eu e tudo o que mudaste em mim.
Eu e tudo o que fizeste de mim.
Eu e tudo o que aprendi contigo.
E apesar de tudo o que há teu em mim, hoje estou sozinho.
Sozinho como me senti em todos os dias deste ano.
E hoje, como em todas as noites desde que a noite te levou, não quero adormecer sem ti.
Não quero acordar e perceber que continuo sozinho.
Que nenhum beliscão me acorda daqui.
Que não vais mandar vir comigo por ter olhado para a miúda gira do outro lado da rua.
Mas hoje sou só eu e um quarto de hotel.
E hoje, um ano depois, decidi deambular pelas ruas desta cidade de phones nos ouvidos.
Decidi ficar por aqui e percorrer todas as travessas, todos os restaurantes... todas as pedras de calçada que pisámos.
Porque enquanto houver ruas de quem fomos haverá chão de quem somos.
Porque enquanto eu for, tu és.
Naquele último domingo em que te vi, a tua única preocupação foi não teres trazido o carro por causa do temporal e assim não poderes ir à aula de contemporâneo.
E eu tenho tantas saudades de ver o teu cabelo esvoaçar num passo de dança.
Tenho saudades de comer as bolachas da gaveta de baixo da tua mesa de cabeceira.
De te puxar do corredor do material escolar.
Dos teus dossiers coloridos e organizados, de tirar o fundo dos teus powerpoints, do teu ritual a ver notas no moodle, do cheiro dos teus marcadores coloridos, da Kina a atrapalhar-te e a mandar tudo para o chão.
De ficar a ver-te enrolar o cabelo. Do teu jeito de coçar o nariz.
De inventar sempre formas de te surpreender.
Dos teus pratos especiais.
De te ter no lugar à minha frente.
Do som das rodas de plástico da tua mala cor-de-rosa calçada acima na Rua do Raimundo.
Do eco do teu sorriso infinito adentro.
De ver duas sombras no chão à minha frente e dois reflexos no vidro ao meu lado.
De fazer do meu Fiat Punto Ferrari para vir até aqui cuidar de ti quando ficavas doente.
De atravessar Évora no gelo da manhã para ir buscar pão do dia para o teu pequeno-almoço, antes de ires para as aulas.
Do teu mau feitio pela manhã (e estou a ser simpático).
De deixar tudo a brilhar antes de chegares.
De tudo.
De ti.
De nós.
De mim.
Um ano depois?
Preciso que me segures onde o tempo não chega.
Que espalhes sentido em mim.
Que fiques quando todos forem.
Que sejas o depois quando o dia termina.
Que sejas chão onde o mundo acaba.
Que dances onde a gravidade não pesa.
Que estejas bem.
Por aqui está tudo bem.
Só faltas tu.