acordo tarde e demoro a levantar-me, com a mesma falta de vontade de quem não tem mais onde ir. arrasto-me entre divisões, prendo o cabelo num carrapito para nem me preocupar a penteá-lo, repito as mesmas roupas velhas para as tarefas de sempre. olho o telemóvel uma e outra vez, numa ansiedade iludida, mas nunca és tu - ainda espero por ti, qual guerreiro, que me salva num último golpe de coragem e de fé, mas nada muda. adio as saídas de casa porque não estarás no meu destino. a desmotivação mascara-se de perguiça, o mal estár físico surge para perdoar o psicológico, embora saiba que é mais ao contrário: em todas as piores fases da minha vida, tive o dom de me pôr doente sem saber porquê. esta é uma dessas.
hoje vou sair: cobri a face de maquilhagem para disfarçar uma palidez que nunca me foi característica. contornei os olhos para os fazer parecer menos vazios e mais ávidos: mascarei-me de outra mais feliz, mais bonita, com os sonhos menos corroídos e a esperança menos gasta. o horizonte é agora um traço mal desenhado que não me parece mais feliz desde que deixaste de lhe pertencer: hoje é terça. deveria ter memórias frescas de ti, e aquela ansiedade boa, tão boa, de te voltar a ver em breve. era o suficiente para me alimentar o ânimo fraco nos tempos em que me restavam dias quentes.
tenho saudades de ti. sem ti na minha vida só me restam dias iguais, mornos, mais frios que quentes mas, ainda assim, mornos. restam-me palavras soltas que aponto para não me esquecer, esperas vãs e expectativas mortas: a minha vida não está mais drasticamente mais difícil agora que não estás aqui mas, posso jurar, era mais feliz quando te tinha comigo.]
1 comentário:
Em contrapartida, nota-se na tua escrita a inspiração de antigamente.
Eu sempre achei que a dor de corno faz muito pela veia artística das pessoas. Aliás, não sou eu que o digo. Ouvi-o a um artista há muito tempo. Tanto tempo que já nem "malembra" quem foi. lol
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