Um dia perguntei-te se alguma vez tinhas sentido que não eras bom o suficiente; estava deitada, tinha a cabeça no teu colo e nem queria acreditar nas palavras que te saíam da boca. Quando acabaste, não fui capaz de te responder logo - abracei-te com a força de quem gosta demasiado de ti para te ver sofrer. Lembro-me de que estranhaste o meu silêncio; mais do que dizer-te como eu me sentia, queria que o sentisses também.
Tu não és bom o suficiente - és muito mais do que isso. Pelo menos para mim. E, mesmo agora, com um pé de cada lado da fronteira entre o ser e o não ser, não me arrependo de um único segundo passado ao teu lado, do tempo que te dediquei, do que ainda te dedico, como estas palavras que te escrevo - seja qual for o nosso fim, quero que saibas o que vales e o quão especial te acho.
És um eterno desalinhado: se os homens fossem feitos em série, tu serias aquele que fugiu do tapete só para contrariar as tendências - tu nem gostas por aí além da ideia de ser diferente, mas és. E eu gosto tanto disso, caramba!
Contigo tive de me habituar a não esperar o habitual - surpreendes-me todos os dias por essa forma de ser avessa a tudo o que parece ser o normal, e esse teu jeito estranho de ser foi o que me fez começar a tropeçar por ti em primeiro lugar.
Adoro a forma meticulosa como escolhes as palavras, como as arrumas nas gavetas certas e as usas no momento ideal; ouvir-te dizer que adoras algo em mim tem um sabor diferente de o ouvir de outra pessoa qualquer porque, quando dizes que adoras, eu sei que adoras mesmo e que te recusas a usar palavras com um peso diferente daquilo que sentes.
Gosto que te dês ao trabalho de pensar sobre as coisas e digas o que pensas nem que para isso tenhas de escrever uma mensagem com extensão suficiente para ser a transcrição da bíblia. Adoro o facto de seres inteligente e estares sempre pronto, tanto para ensinar quanto para aprender - explicaste-me que, se suster a respiração, não me pico ao tocar nas urtigas, mas enviaste-me uma foto a preto e branco porque mexeste no telemóvel e, sem saber como, as fotos começaram a sair todas assim; adorei que tivesses tanto de homem quanto de miúdo, tanto de sábio quanto de inocente.
Também gosto de ti porque não sabes nadar mas gostas de ficar deitado a sentir as ondas baterem-te no corpo, porque não tens medo de demonstrar que choras. E gosto das tuas mãos grandes, sempre geladas, com as unhas mal cortadas. Da forma simples como te vestes e da maneira como tentas nunca julgar os outros. Reparas nas coisas, comentas, mas nunca és mau: és só observador.
Guardo comigo cada momento em que não me deixaste olhar para ti porque, para isso, teria de estar demasiado afastada, e todos os outros em que quiseste ficar só a observar-me, sem nada dizer. Guardo todos os momentos em que disseste algo querido ou embaraçoso e ficaste tão atrapalhado que escondeste a cara no meu ombro - sempre adorei essa combinação de segurança com timidez, já agora. Não havia como não adorar.
Tivémos momentos maus, sim - mas voltaria a fazer 90km, doente, só para passar 2 horas contigo dentro do carro, por ser o possível. Voltaria a fazer isso e muito mais porque há pessoas que valem o mundo: nunca deixes que te convençam de que vales menos do que isso. Por favor, nunca mais sintas que não és bom o suficiente.
Seja qual for o desfecho do que fomos, guardo-te com o maior carinho. E, se arrependimentos os houver... há de ser a forma tola como perdi alguém tão especial quanto tu. Mas, comigo ou sem mim, quero que sejas feliz, porque o mereces.
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