[saí de casa cedo.
trazia sonhos na mala por não condizerem com o desânimo que carrego no peito - horas depois, cá estou eu. sentei-me num banco, naquele que, em tempos parecidos com os de agora, foi o meu jardim preferido.
quando olho à volta, não encontro ninguém. vejo pessoas mas não as encontro, de tão ensimesmados que somos. o chão cobre-se de folhas secas, que se estilhaçam debaixo das minhas botas e acabam tão fragmentadas quanto eu: parece um ensaio para o outono em pleno inverno, como se a própria natureza já não soubesse o que fazer.
e em mim, cresce o desespero. o desespero dos que querem ser e nunca são - não sinto que algum dia me vá conseguir realizar. fui feita à margem e vivo à margem - à vida, fico-lhe curta nas mangas e nunca sirvo para lado nenhum. para ninguém.
o que sinto hoje é a urgência de desfazer em lágrimas os sonhos que tento apagar com aquela borracha que promete apagar tinta de caneta. não apaga: desbota a cor, engelha a folha, mas deixa as marcas intactas. palavra por palavra, cravadas numa alma sem alento possível.
já me cansei de desejar dias melhores. de implorar ao mundo que me dê tréguas - há algo em mim sempre demasiado errado. nunca bate certo. nunca é suficiente. os dias maus têm sido substituídos por dias piores e já não tenho a quem pedir ajuda. queria paz. paz e um abraço forte que carregasse consigo, cravado a ferro e fogo, a promessa de que ainda vou ser feliz. que minha sorte também pode mudar e que um dia o mundo vai conspirar a meu favor e deixar de me levar ao tapete.
precisava que alguma coisa me fizesse sentir que valho a pena - mas sinto-me a desistir.]
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