O que temos de mais certo na vida são as despedidas mas nunca estamos a contar com elas - acreditamos que haverá sempre tempo mais tarde, estendemos-lhe o tapete vermelho e observamo-lo a desenrolar-se diante dos nossos olhos sem o aproveitarmos o suficiente.
É assim que me sinto em relação a ti: guardámo-nos para depois e nunca nos concretizámos. Somos dois otários tão iguais e tão diferentes ao mesmo tempo que não passamos de um par de paradoxos que podiam ter sido mais e não quiseram. Portamo-nos muito mal.
Deixei-te avançar ao teu ritmo - nunca te escondi alguma impaciência, alguma vontade de saltar umas quantas casas, mas quis respeitar-te sempre. Demorei a entender que, no fundo, tens tanto medo de te entregar quanto eu e que era isso que te fazia dar passos pequeninos em direção ao futuro que não fomos - respeitei-os porque acreditei que seria um bom augúrio, que querias algo sólido, que estavas a tentar que a relação que tínhamos não fosse um castelo de cartas à espera de um vendaval. E isso é o que me custa mais: acreditei que teríamos bases fortes.
Querias construir um quase-amor, eu contentava-me com a consumação da atração - as coisas evoluem e não perderiam o sentido nem a razão de ser por fazermos a vontade aos corpos. Querias tudo racionalizado. Querias atribuir valores a sentimentos inquantificáveis, querias rótulos improvisados para não perderes o controlo do que éramos. Eu queria que te tivesses descontrolado, mas deixei-te ir devagar - era mais seguro, ainda que, agora, com o fim à vista, me pareça que foi em vão.
Tu não és perfeito e eu sei disso - mas as coisas de que não gosto em ti nunca ganharam corpo em relação a todas aquelas que, dia após dia, me fizeram gostar um bocadinho mais. As pessoas não são feitas à medida das nossas necessidades, dos nossos gostos, das nossas preferências - gostar de tudo em ti seria um perfeito disparate, mas gostar menos de ti por isso seria ainda pior.
A diferença entre nós é que a minha impulsividade nunca me deixa guardar mágoas para explodir mais tarde - digo o que quero, o que penso e o que sinto na hora, e depois estou pronta para recomeçar. Tu guardas. Arquivas para mais tarde justificar uma mudança de atitude que nunca fizeste questão de declarar - e, acredita que isso é, de longe, o que menos gosto em ti porque não o compreendo. Tal como tu não és capaz de compreender a minha falta de filtros. Ainda assim, gosto de ti. Todos os dias. E sinto a tua falta.
Mentiria se dissesse que não há uma ínfima parte de mim que espera por um plot twist - assumi que tinha acabado de vez, mas ainda espero que uses aquela última hipótese que te dei a nosso favor. Que repenses, que reconsideres, que peses os prós e os contras de todas as decisões possíveis: deixei-te com a faca e o queijo na mão por puro cansaço - e por esperança de que me surpreendas. De que cometas uma loucura - eu valho uma loucura? -, qualquer uma. Que faças algo inesperado. Que me choques, que não me mostres que não tenho alternativa senão receber-te de braços abertos - estou sempre à espera de uma mensagem. Estou sempre à espera de notícias e de que me proves que não estás a fazer o que eu acho que estás a fazer.
O jogo é nosso, as regras são nossas, e nada está perdido até que se decida arrumar o tabuleiro de vez - espero que a próxima jogada te saia melhor. Que empatemos o jogo, porque não faço questão de te ganhar - na dúvida e na pouca esperança, posso jurar-te, se sonhasse que aquela era a última vez que te via, nunca te teria deixado ir embora sem levares um beijo meu no bolso - daqueles a sério, dos que deixam saudades. Dos que te fariam lamentar ter-me perdido.
(lamentarias?)
Sem comentários:
Enviar um comentário