Ele não sabia o que se passava. Não conseguia compreender como é que aquilo era possível - e, verdade seja dita, nem queria saber. Tinha medo da resposta, tinha medo de perceber que não tinha por onde fugir e que não havia mais nada a fazer senão vivê-lo - ou destruí-lo.
Olhava para ela com uma certa raiva. Era incapaz de a compreender; parecia vinda de outro mundo, de um mundo à parte, nada nela era normal. Chegava a ser ridícula às vezes. E estava ali, sossegada e sozinha, mas com todo o ar de quem não queria estar em qualquer outra parte do mundo. Estúpida. Como se fosse bom estar sozinha. Como se alguém gostasse de tanta solidão. Como se não lhe fizesse nem um bocadinho de impressão as pessoas não gostarem dela. Deficiente. Não percebia como é que ela conseguia manter-se tão calma. Odiava-a. Odiava tudo nela. Odiava aquela mistura de irreverência com simplicidade. E, sobretudo, odiava aquele ar de filha da puta adorável com que, indecentemente, ela o fez cair de amores. Havia de odiá-la para sempre por ela o fazer precisar tanto de alguém. Ela ainda lhe havia de pagar bem caro por o ter feito apaixonar-se assim. Tinha-o dito.
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