É engraçado como as dores que nos parecem autênticas tempestades, depois de apaziguadas, não nos sabem a mais do que uma brisa filha da puta que nos estraga o penteado - é esta a conclusão a que chego hoje, quando olho para trás e percebo que vivi um ano do caralho e, mesmo assim, foi um dos melhores anos da minha vida.
Não é que eu tenha sido particularmente feliz ou bem sucedida - juro-vos, fui tantas mas tantas vezes ao tapete, que nem sei. Mas aprendi imenso com isso. Cresci mais nos últimos meses do que acho que tinha crescido até então, e descobri que não me conheço mas que isso também não faz mal; as mudanças estão longe de se cingir às tais unhas de gel e a esse lado mais menina que acabou por surgir do nada: isto, eu conto-vos a brincar. As diferenças estão, sobretudo, nas histórias de vida que ouvi, nas pessoas que conheci, nas responsabilidades que ganhei - tudo isto mudou a minha forma de ver as coisas de uma maneira que nem eu sei explicar.
Também já vos disse que isto pareceu uma casa de putas - ainda estava eu a instalar decentemente uma pessoa na minha vida e já ela estava a sair pela outra porta; perdi-lhes a conta, mas também não me importei. Não houve uma única pessoa que tivesse cruzado o meu caminho que não me tivesse feito perceber alguma coisa sobre mim mesma que eu ainda não soubesse - mas, no geral, o que tudo quanto é macho me mostrou é que eu sou mais complicada do que o deus me livre e, no fundo, gosto disso. É precisa muita força de vontade para me entender e o triplo da coragem para, ainda assim, quererem chegar até mim. Depois é preciso é eu não ser estúpida o suficiente para os mandar embora quando lá chegam, mas pode ser que aprenda isso no próximo ano.
E com isto me retiro. Afoguem-se no álcool, alforrecas! E um bom ano.