Noutras circunstâncias, gozar-me-ias por a única coisa que me vem à cabeça ser uma frase do harry potter - às vezes temos de escolher entre o que é certo e o que é fácil. E eu escolhi; escolhi o que mais me dói mas, ainda assim, aquela que eu julgo ser a opção mais correta. E urgente.
Sempre te disse que gostava de ti mas que não estava apaixonada porque a situação não o permitia - desculpa, mas menti-te. Isto foi só uma manobra da minha eterna mania de economizar nas palavras que descrevem sentimentos; ainda não me habituei a deixá-los a descoberto. Não havia como não me apaixonar; mesmo sem querer, mesmo sem saber como, apesar de tudo. Mas, um dia, isto deixou de me chegar.
Conheces tão bem quanto eu a minha paixão assolapada pelas palavras - mas há uma altura em que elas carecem de atos que as sustentem, ou então não são mais do que uma brisa leve que roça a pele e nem faz frio nem ameniza o calor; são só palavras, curtas, longas, tanto faz. Não chegam de maneira nenhuma. E, então, chega-se o tempo de partir antes que faça mais estrago.
Não te deixo de ânimo leve - tanto não deixo que resolvi não te enviar isto. Sei que o lerás na mesma e assim sempre nos poupei a mais uma discussão interminável e da qual nunca tiramos conclusão nenhuma; também sei que vais continuar sem entender, que vai custar a aceitar, mas espero que compreendas o meu lado. Eu não sou como tu.
Nunca soube habituar-me a esse ter-te sem te ter. Nunca consegui ter uma convivência pacífica com a ideia de que, a qualquer momento, tudo pode mudar; somos livres, dizes tu, e temos de ir vivendo - nunca soube como explicar-te que, neste momento, a simples ideia de ir vivendo sem que tu faças parte, dói. Eu não quero mais ninguém que não sejas tu e sei que não vou ser capaz de olhar para alguém dessa forma enquanto estiveres aí, enquanto for a tua voz que me acalma sempre que o fim do dia chega, enquanto eu sentir essa necessidade de te contar o que se passa na minha vida. Posso até ter casos de uma noite mas, quando o sol nasce, já é em ti que eu estou a pensar outra vez e na forma ridícula como não consigo deixar de sentir que te traí. Mesmo que tenhamos decidido que o melhor seria mantermos essa liberdade; não estou livre, estou contigo.
Também deves saber que eu não gosto de nada que me estagne a vida - quero tudo para ontem, quero a inconsequência de ser, quero ir andando sem que nada me páre, mas dei por mim a parar-me de propósito. Quando dei conta, estava aqui, à espera de que algum dia alguma coisa mudasse e que fosse possível não ser assim. Acho que esperei, sem esperar, que um dia fizesse sentido; uma palavra e eu era tua. A palavra nunca chegou e eu sou-o na mesma, sem querer, sem me aperceber, sem controlar - queria desligar-me de ti, queria ter essa tua capacidade de lidar com o facto de nós nunca irmos passar disto. Mas não tenho. A simples ideia de sermos inconcretizáveis rouba-me o ar; a cada dia que passa, é mais difícil para mim.
Nunca pensei que fosse possivel gostar tanto de ti, mas é. É, mas neste momento eu sei que só estamos a massacrar-nos, quais condenados no corredor da morte. Estamos conscientes de que o que temos tem um fim à vista, mas insistimos sempre porque não sabemos estar separados. Porque o dia, sem ti, já não me sabe ao mesmo. Porque o mundo sem ti já não me sabe ao mesmo, por muito exagerado que pareça. Sou estupidamente mais feliz desde que te tenho na minha vida, mas sei que é temporário. Que, a qualquer momento, isto me vai magoar mais do que tudo o resto. Que estou a prender-me a algo que não tem pernas para andar - lutaria por isto até ao fim, juro-te que sim. Mas nunca o poderia fazer sozinha. E então, é tempo de partida.
Outra das frases que me vem sempre à memória quando preciso de tomar alguma decisão, pertence ao mr nobody - até ao momento em que escolhes, tudo é possível. Gosto de acreditar nela e na falta de limites. Na estrada interminável que tem qualquer que seja o destino que eu queira; apetecia-me acreditar que ainda era possível não ser esta a única situação viável.
Quero que saibas que já te sinto a falta em adiantado e que me dói a certeza de que não vou esbarrar contigo numa rua qualquer e dar por nós a falarmos sobre tudo o que poderíamos ter sido. Ou a sê-lo, realmente. Dói-me a efemeridade das saudades; dentro de pouco tempo, esta será só mais uma história falhada e já não vai significar nada para ti, porque estás conformado; temos de viver, como dizes. E isto significa que eu tinha toda a razão quando te dizia que precisava de me afastar antes que fosse tarde demais; sabia que ia chegar a um ponto sem retorno e que eu ia ser, como sempre, a que se magoa. Quem me dera não estar certa.
Encontrar-te foi talvez uma das maiores sortes da minha vida - desejo-te o melhor, e o melhor ainda é pouco. Não lamento o tempo que gastei contigo. Só lamento que tenha de acabar assim e que, no final das contas não tenha valido de muito. E espero que saibas que já invejo em adiantado todas aquelas que tenham a sorte de te conseguir ter - nunca vão entender realmente a sorte que têm. Azar o meu. Resta-me esperar que não te esqueças, que me guardes num cantinho qualquer, tal como eu farei contigo. Obrigada por tudo.
Adeus.