terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

chateei-me.

Na reportagem da sic, sobre a toxicodependência, ouviu-se a dada altura uma mulher a dizer algo do género: como podem ver temos condições muito precárias, é uma vergonha a forma como vivem os consumidores. De alguma forma, isto irritou-me profundamente: não consigo compreender como é que ainda têm a lata de se queixar. Juro que não.

Vivemos num país que só se lembra dos sem abrigo no natal e quando há vagas de frio, que faz cara feia aos refugiados porque, já se sabe, trazem todos um cinto de bombas por baixo da roupa e que julga, à priori, todos quantos cometam a ousadia de ter uma raça ou uma religião diferente - mas se são toxicodependentes tudo bem. Faz-se-lhes festinhas na cabeça e procuram dar-lhes condições para continuarem a fazer aquilo que sabem de melhor: drogar-se.

Desculpem-me o preconceito, mas não consigo compreender. As drogas são uma escolha, quer queiram quer não. Não é algo que não se possa mudar, não é algo de que as pessoas não tenham culpa: é, pura e simplesmente, uma escolha e ninguém é uma vítima de nada.

Se querem ajudar estas pessoas, que tentem a reabilitação - distribuir seringas com sorrisinhos condescendentes é quase um incentivo. Eles não têm de fazer nada porque são só uns coitadinhos: roubam para poder comprar droga, roubam para comer, dormem onde dá, e está tudo bem porque ainda aparece um grupo de pessoas com seringas novas e pancadinhas nas costas. Ninguém tem culpa de ter entrado neste mundo, ninguém sabia onde ia dar. Não faziam ideia de que iam ficar assim.

Acho triste que se apoie mais gente que fez uma escolha errada do que aqueles que não tiveram qualquer alternativa e acabaram na miséria. Acho ainda mais triste que, com toda uma panóplia de doenças que não podemos evitar, se premiem aqueles que abraçam problemas desnecessários. Escolhas.
É tudo sobre isso.

2 comentários:

J.B. disse...

Se por um lado compreendo e concordo com o que dizes, nomeadamente no que toca aos refugiados, aos sem abrigo, etc., por outro, e por ter sofrido na pele com o flagelo da heroína, tenho que discordar... ligeiramente. Sim, é uma escolha. Mas é um vício que se apanha tão depressa que nem se dá por nada e quem a escolhe consumir uma vez nunca pensa que vai continuar a consumir daí a 10 anos. Passam mais anos a tentar sair dela, muitos deles, do que a consumir por prazer, porque as ressacas são alucinantes. Estas campanhas de distribuição de seringas são absolutamente necessárias e é, de facto, um mundo de desgraça, o da droga. Um toxicodependente acorda todos os dias com uma e apenas uma ideia na cabeça - matar a ressaca, fazer o consumo do dia. E isto faz com que tome uma data de decisões ridículas. Roubar é uma delas. O que lhes aparecer à frente, seja de quem for. Partilhar uma seringa é a segunda. Não é ter pena. É saber, também, que não adianta internar compulsivamente. E que mesmo que adiantasse, um bom tratamento fica demasiado caro para os bolsos das famílias do comum consumidor.
Beijinhos (fico feliz que não tenhas desaparecido :) )

ernesto disse...

Eu entendo isso tudo, mas acho que acaba por incentivar. Ou vá, o que me chocou mais na dita reportagem é o facto de serem vistos como vítimas, e com isso eu não consigo concordar mesmo.

Beijinhos!
E a verdade é que eu gosto demasiado do meu cinderela. Bem tento fugir, mas num dá! ahah