Eu sei que o nome do meu blog é demasiado longo quando me apercebo de que há alguém que, de há uns tempos para cá, me pesquisa todos os dias só por cinderela. Ou isso, ou que anda por aqui um leitor preguiçoso.
Denuncia-te, alforreca!
O caminho do engano nasce estreito, mas sempre encontrará quem esteja disposto a alargá-lo, digamos que o engano, repetindo a voz popular, é como o comer e o coçar, a questão é começar.
A história dos homens é a história dos seus desentendimentos com deus, nem ele nos entende a nós, nem nós o entendemos a ele.
Como sempre, as palavras têm os seus quês, os seus comos e os seus porquês. Algumas, solenes, interpelam-nos com ar pomposo, dando-se importância, como se estivessem destinadas a grande coisa, e, vai-se a ver, não eram mais que uma brisa leve que não conseguiria mover uma vela de moinho, outras, das habituais, das de todos os dias, viriam a ter, afinal, consequências que ninguém se atreveria a prever, não tinham nascido para isso, e contudo abalaram o mundo.
Chorar o leite derramado não é tão inútil quanto se diz, é de alguma maneira instrutivo porque nos mostra a verdadeira dimensão da frivolidade de certos procedimentos humanos, porquanto se o leite se derramou, derramado está e há que limpá-lo.
O sentimento era de esperança, misturado com uma série de outras emoções - excitação, resignação, confusão, medo -, e tanto irrompia de repente como acabava por esmorecer. Como quando somos arrebatados por um súbito otimismo, para logo a seguir termos a certeza de que tudo irá acabar mal. E é quase sempre o que acaba por acontecer.
Talvez por isso, habituei-me desde muito novo a traçar uma fronteira invisível entre mim e os outros. Fossem eles quem fossem. Comecei desde muito cedo a adotar uma distância razoável e a mantê-la, sem nunca deixar ao mesmo tempo de estudar cuidadosamente a atitude dos meus interlocutores. Aprendi a não engolir todas as histórias que as pessoas me contavam. Os livros e a música têm sido a minha única paixão e, como devem calcular, levo uma vida solitária.
Estou apaixonada. E este amor vai decerto arrastar-me para longe. A corrente é demasiado forte, não tenho escolha possível. Pode muito bem levar-me até um sítio especial, a um mundo inteiramente desconhecido. A um lugar povoado de perigos, onde esteja escondida alguma coisa que acabará fatalmente por me ferir. Posso acabar por perder tudo. Mas já não posso voltar atrás. Só posso deixar-me ir com a maré. Mesmo que comece a arder, mesmo que desapareça para sempre.
É estranho, mas quando receamos tanto uma coisa que daríamos tudo para fazer o tempo andar mais devagar, este tem a mania de andar mais depressa.
Nós podemos cometer muitos erros nas nossas vidas - disse o advogado. - Menos um: aquele que nos destrói.
O grande problema do envenenamento por amargura era que as paixões - ódio, amor, desespero, entusiasmo, curiosidade - também não se manifestavam mais. Depois de algum tempo, já não restava ao amargurado qualquer desejo. Não tinha vontade nem de viver, nem de morrer, esse era o problema.
- O que faz uma pessoa detestar-se a si mesma?- Talvez a cobardia. Ou o eterno medo de estar errada, de não fazer o que os outros esperam.
Durante toda a sua vida, veronika percebera que um imenso grupo de pessoas que conhecia comentavam os horrores da vida alheia como se estivessem muito preocupados em ajudar - mas na verdade compraziam-se com o sofrimento dos outros, porque isso fazia-os acreditar que eram felizes, que a vida tinha sido generosa para com eles.
Qual a mensagem oculta que tinha diante dos olhos, se é que existem mensagens ocultas ao invés de coincidências?
É possível existir-se sem alma, sabes? Desde que o cérebro e o coração continuem a funcionar. Mas deixa de se ter memória e sentido de identidade. Não há possibilidade de recuperação. Existe-se apenas como uma concha vazia. E a alma foi-se para sempre, perdeu-se.