Tinha uma letra horrível e colava os marcadores de páginas nas costas das mãos. Sorria quase com tanta frequência quanta andava no mundo da lua, tocava insistentemente na testa quando estava nervoso e era tão esquisito quanto eu - adorava-o. E mesmo agora, ainda adoro porque sei que, se fôssemos um puzzle, dificilmente haveria uma peça que se me encaixasse melhor do que ele. Com o tempo, habituei-me à ausência, ao desaconchego do silêncio - habituei-me, resignei-me, e já nem falo dele a ninguém.
Foi das melhores pessoas que me cruzaram a vida e estou-lhe eternamente grata por isso, mas às vezes dava tudo só para o ter mais uma vez aqui, mais do que na minha memória, mais do que meia dúzia de recordações que, apesar de tudo, ainda me deixam de lágrimas nos olhos. Só precisava de mais cinco minutos de mundo certo, de palavras certas, de sentido, de sentimentos, de calma, de paz. Depois ele podia ir embora outra vez e eu juro que não o procurava mais.
Hoje, senti-lhe a falta.
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