terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

não me contes o fim

Um  dia tentas voltar mas já não encontras a chave debaixo do tapete - depressa acabarás por perceber que não foi distração minha e que também não a escondi atrás do vaso ao lado da caixa de correio. Todas as janelas estão fechadas, as portas trancadas. Entenderás, finalmente, que não há mais uma única frincha que te sirva de portal para entrares na minha vida; então, talvez te arrependas e tentes partir um vidro, talvez vires as costas e faças de conta que nunca tentaste - estou habituada às tuas inconstâncias e é um erro julgares-me certa. De mim, não te sei falar, mas acredita que consigo ser mais inconstante do que tu. Certamente, terei estado à tua espera mais tempo do que me permitiria admitir esperar, com o ar despreocupado de quem já pouco mais quer da vida, ainda que tudo em mim fossem saudades de um tempo mais feliz e ansiedade de voltar a ter um leve vislumbre dele. Mas um dia, terei desistido de vez. Um dia, ter-me-ei conformado com a ideia de que nunca terias coragem para voltar, nem eu para te procurar. Sorrirei. Estou certa hoje daquilo que espero nunca duvidar - vou estar sempre presente, mesmo que fuja, mesmo que fujas, mesmo que a vida nos arraste para outro lugar, mesmo que o mundo nos separe de vez. Estarei sempre presente - mas no dia em que decidires procurar-me, eu já mudei de casa.

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