Sabes quando estás na prancha mais alta, cheio de vontade de saltar para piscina, mas tens medo de que alguma coisa corra mal e te fira mortalmente? Foi mais ou menos isso que senti. Desculpa - sou muito mais fraca do que quero fazer parecer que sou. Ou que quero acreditar ser.
Tu és o tipo de pessoa incrível a quem dá vontade de perguntar por onde andou a minha vida toda e reclamar uma compensação pelo tempo que perdemos até nos encontrarmos. A combinação de tudo o que eu podia pedir em alguém, e um bocadinho mais - ou dois bocadinhos. Três. Mil. Não sei.
A verdade é que nunca conheci ninguém tão genuíno e muito menos alguém que fosse capaz de me desarmar em menos de nada. A pessoa que não conheceste, a patrícia que eu era antes de ti, nunca se teria rendido em menos de nada. Nunca teria sido capaz de confiar em ti em tão pouco tempo. Mas tu soubeste domar esse lado eternamente fugitivo sem sequer te dares conta - é mesmo muito fácil gostar de ti. Demasiado fácil.
Confesso - entrei em pânico quando me apercebi de que me ia apaixonar por ti num abrir e fechar de olhos. Sabia que, por mais que tentasse oferecer resistência e obrigar-me a reparar nas cicatrizes sulcadas que ganhei de todas as outras vezes, eu conseguia aprender a gostar de ti antes sequer de ter tempo para organizar as ideias e descobrir porquê. Na realidade, os porquês das paixões são sempre o que menos importa, porque são lugares perigosos. E tu eras o perigo perfeito - nunca tinha conhecido ninguém tão sensível, tão puro, tão querido, tão simples, tão sensato. E bonito. Acho que nunca te cheguei a agradecer pela forma como lidaste comigo naquela noite - podias ter feito o que quisesses, e escolheste fazer a coisa certa. Talvez tenha sido exatamente essa a atitude que te empurrou para o pedestal mais alto onde algum dia te teria conseguido meter.
Senti-me sempre louca pela forma como me sentia em relação a ti, até ao dia em que disseste que te tinha acontecido exatamente o mesmo; parecia impossível. E, naquele dia, sentados frente a frente, eu não conseguia dizer nada porque teimo em tropeçar nas palavras quando não escritas - mas menti-te. Não era só a vergonha que me impedia de falar; estava completamente absorta nos meus pensamentos. Algum dia olhaste para alguém e sentiste-te realmente com sorte por estares ali, à distância de um braço, dela? Foi isso que eu senti naquele dia. Queria ter sabido dizer-to, mas não fui capaz - não sou boa a lidar com sentimentos. Desculpa-me outra vez mas, acredita, se eu tivesse dito exatamente o que pensava, até a cusca da mulher que não tirava os olhos de cima de nós teria saído de lá a chorar. Mas sou cobarde.
Se te estiveres a perguntar isso, sim, estou mesmo muito arrependida por tudo o que disse. E pela falta de confiança em ti que me levou a ir confirmar se era ou não verdade o que me tinhas dito - lamento ter-me intrometido nas tuas coisas. Lamento, mas a culpa não é tua - é daquela voz que vive dentro da minha cabeça e passa a vida a relembrar-me do quão feia, gorda e inútil sou. Do quanto eu não valia nada ao teu lado e do quão provável seria acabares por te cansar de mim e descobrires alguém mil vezes melhor. Também tenho os meus fantasmas - já to disse. Assim que te senti a distanciar, percebi que tinha de fazer o que sei fazer de melhor; fugir. Fugir antes que me fujam. Rejeitar antes que me rejeitem. E, sobretudo, desconfiar de todos os que digam sentir alguma coisa por mim - especialmente se forem como tu. Desculpa - já pedi desculpa? A culpa é minha, mas eu deixo-me envenenar com pouco e tudo confirmava as minhas suspeitas. Tudo me serviu como prova perfeita e eu não sei controlar o que penso. Tenho de o dizer. Sempre.
Não estou certa de que algum dia chegues a ler isto mas, se chegares aqui, quero agradecer-te. Quero agradecer-te por tudo o que, mesmo sem saberes, fizeste por mim. E, pela milionésima vez, quero pedir-te desculpa por não saber confiar. Acredita que serás a sorte da vida de quem ficar contigo - e lamento por todas as que te perderam. Incluindo-me.
Disse-te que ter-te conhecido foi um erro, mas estava a mentir - ou, se o tiver sido, acredita que foi o erro mais certo da minha vida. E eu voltaria a cometê-lo todos os dias, até ao fim.