Quando penso em ti, penso sempre no nosso início. Na amizade leve, sem grandes pretensões, que tínhamos - as conversas de horas e horas, as gargalhadas, as partilhas, a curiosidade crescente. Lembro-me da forma lenta, leve e doce como os sentimentos se foram instalando. Na forma como, quando dei por isso, estava completamente apaixonada por ti, ainda que isso nem sequer me parecesse uma hipótese viável, coerente. Não fazia sentido nenhum, mas fazia-me feliz e isso bastava.
Quando penso em ti, penso sempre nessa parte boa e feliz da nossa história absurda - depois, vieram os primeiros dramas. Veio a minha insegurança meter tudo em causa, veio a minha impulsividade minar os teus sentimentos, a forma como me vias. E tinhas razão: entendo-o agora, com a clareza que só a distância permite. Eu não sou boa a gostar nem sou boa de gostar: os meus medos, a minha insegurança, tornam-me numa pessoa doentia de que eu própria fugiria a sete pés. Desculpa. Mil desculpas nunca chegarão para expressar o quanto lamento o que nos fiz. Mas está feito.
Quando penso em ti, tento nunca pensar no facto de me teres deixado a tentar sozinha. Tento não me lembrar de que não te esforçaste o suficiente, tento não pensar que poderia ter sido diferente: abandonaste-me ainda antes de teres motivos para isso. Nunca foste capaz de lutar, um bocadinho que fosse, porque deste a batalha por perdida ainda antes de começar. Tento não pensar nisso porque quero guardar só o que tenho de bom de ti.
Passaram-se praticamente dois anos e parece uma loucura que tenhamos acabado assim: a vida trocou-te as voltas de repente. Puta. Se há pessoa que não merece nada do que lhe aconteceu, és tu. Não mereces tanta dor, tanto azar, tanto desespero. Não mereces mesmo, acredita. Mas queria que tivesses notado que, durante todo este tempo, estive a tentar que percebesses que eu continuaria aqui, tal como naquele início em que eu penso sempre. Estaria aqui sempre, porque acredito que vales a pena. Acredito que és mesmo uma excelente pessoa, mas falhaste demasiadas vezes comigo.
Perdi a conta às vezes em que acabei a chorar por tua causa - ainda agora, neste momento, o faço. No dia em que me disseste, pela primeira vez, que já não sentias nada por mim, achei que te poderia reconquistar: foram as saudades daquele início que me prenderam, durante meses, que me mantiveram firme na minha decisão, ainda que me fizesses chorar dia sim, dia não. Um dia cansei-me e fui à minha vida: acreditei que a nossa relação teria muito a ganhar se eu conseguisse distanciar os meus sentimentos de ti. Fiz um esforço para conseguir seguir em frente e, quando consegui, finalmente, cometi o erro crasso de achar que agora tínhamos tudo para recuperar a mesma amizade despretensiosa de antes: ao invés, perdi-te.
O que sinto por ti neste momento é um misto de preocupação, irritação e saudade. Estou furiosa contigo! Mas, mesmo assim, não há um único dia em que não me pergunte se estás bem. Não há um único dia em que não olhe ansiosamente para o telemóvel à espera de notícias tuas: fazes-me falta, caramba. Fazem-me falta as tuas chamadas, as tuas palavras, as tuas mensagens tolas e doces ao mesmo tempo. Faz-me falta saber que existes na minha vida.
Depois de dois anos, perder-te dá-me uma sensação de vazio que não consigo explicar - mas não me deste alternativa. Passei semanas a tentar falar contigo, a tentar entender-te, a tentar ser paciente - mas, caramba, foram semanas e semanas sem resposta. Chamadas que nunca são atendidas, mensagens a apelar a que, pelo menos, me digas que estás bem, mas que nunca são retribuídas - não é justo, não faz sentido. Disse-te tantas, mas tantas vezes, ao longo destes dois anos, que nada me magoava mais do que o desprezo - não estava a brincar, Ricardo.
E foi assim que acabei a despedir-me de ti - disseram-me uma vez que, se quisesse realmente ir embora, não diria nada. Ia e pronto. É verdade: tudo o que te disse foi, numa última tentativa, no auge do desespero, para te tentar fazer perceber que acabarias por me perder se não te deixasses de birras absurdas. Curiosamente, preferiste perder-me.
Apaguei tudo o que tinha de ti, tudo. Registos de chamadas, mensagens, fotografias, o número. Tudo o que me resta de ti são memórias que só o tempo tem o poder de apagar: quis garantir que nunca mais tentaria contactar-te. Que seria capaz de fazer contigo o que fizeste comigo: mas dói, dói para caraças.
Dizer-te adeus era a última coisa que eu queria - se há pessoas boas, pessoas que eu acredito que vale a pena manter na minha vida, tu és uma delas. Ou és A Pessoa; sei que nunca te vou esquecer, a ti e a todas as coisas que me fizeste perceber sobre mim mesma: terias sido a pessoa certa, sim, mas nunca te esforçaste para o ser. E eu lamento isso, do fundo do coração - especialmente hoje que, no meio de um vale de lágrimas, me lembro do nosso início, tão bom, tão leve, tão simples - e sinto ainda mais a tua falta.