terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

oh, you dirty little thing

Eu ia deitar-me cedo mas depois ocorreu-me que precisava de uma playlist nova para amanhã porque a) a rádio enerva-me, b) estou cansada das mesmas músicas e c) tenho uma certa dose de ansiedade a implorar por músicas para berrar pelo caminho.

Entretanto apercebi-me de que estava a usar quase toda a soundtrack do fifty shades darker - que não, não vi mas o spotify contou-me quais eram as músicas de fundo. Uhm uhm. Como é que se conduz quando a música dá aso a uma sessão de strip?

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

dos dias, das pessoas

Por mais anos que viva, nunca vou entender a maldade gratuita. O prazer de humilhar, de espezinhar alguém, de lhe mostrar que não vale nada. De exibir a normalidade como um troféu e esfregar na cara de alguém que nunca a conhecerá de perto. 

Não percebo isso. Não entendo a necessidade de fazer alguém sentir-se pequenino, inútil. De lhe somar inseguranças e de lhe estragar os dias; de o fazer sentir-se uma merda e desistir outra vez porque, afinal, não vale nada e nunca vai valer: passe o tempo que passar, faça o que fizer, vou continuar a não valer a pena. Vou continuar a ser só isto.

é carnaváu, dizem eles

Não quero que pareça que sou a hater que detesta o carnaval, porque não sou - para isso já basta o natal e o ano novo, que este ano conseguiram deixar mossas que teimam em não sarar. Eu não odeio o carnaval, mas também não gosto daquela imitação rasca e portuguesíssima do carnaval brasileiro. Isso sim: detesto.

Não tenho dúvidas de que lá para torres vedras a coisa seja gira. Aposto que é; no resto do país, do que conheço, os corsos são só chatos, pouco interativos para com o público, e as escolas de samba quase dão vontade de chorar. Desculpem, mas é verdade.

Vejo mais monos do que gente a dançar. As meninas só se preocupam em abanar o cu à frente dos jurados, e depois limitam-se a prosseguir com ar de enfado de quem decidiu fazer o favor de aparecer semi nua e com fatos cheios de plumas, sem piada nenhuma - ah, isto: detesto os fatos. De uma forma geral, são só feios e exagerados. 

Já para não falar das mais velhas ou mais gordas: tumbas, fato gigante que rodopia, rodam para um lado e para o outro, cantam, e arrastam-se. Isto não é carnaval: carnaval é o grupo de matrafonas que me fez rir de verdade. Os que puxam elementos do público para o meio deles e os fazem passar uma pequena vergonha enquanto os obrigam a desfilar e os enchem de beijos - a pessoa cora mas ri-se. Mesmo. 

O carnaval devia ser para brincar, e não para avaliar as estrias e a celulite de meia dúzia de cachopas que se esqueceram de dançar - párem lá com isso, porra!

sábado, 25 de fevereiro de 2017

ups

Sempre que eu resmungo por ainda ter de mostrar o cartão do cidadão volta e meia porque ninguém acredita que eu tenho mais de dezoito anos, aparece alguém a dizer:

- ahhh, mas isso é bom!


Experimentem ter este arzinho de quem ainda nem pode comprar uma raspadinha e vão entregar o cv, em mãos, a gente adulta. Conheçam o olhar de mas onde é que este pirralho pensa que vai? e depois digam-me se é assim tão giro - fui presenteada com ele duas vezes no mesmo dia, e o ar incrédulo de duas senhoras que nem se deram ao trabalho de reparar que, só por acaso, tenho 21 anos.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

-

Não, não vou encher o blog com vídeos da desbocada, mas não há como resistir: é exatamente isto.
Ah e tal, porque é que antecipas tudo? Por isto! Antes da pessoa falar, eu já desenhei a trama completa na minha cabeça e já tenho três desfechos diferentes para a situação.

Se tenho tempo para pensar em vez resolverem a situação na hora, lidem com os meus cenários.

pretty much sums it up


Shame on me: acho mesmo piada a esta mulher. Essencialmente porque ela percebe de mulheres.
(é mesmo isto)

dos dias maus

Se é verdade que somos todos filhos de deus, eu aposto que sou a filha bastarda que ele despreza e castiga até mais não - especialmente nos dias de tpm, para se assegurar de que eu vou abrir as torneiras e chorar desalmadamente.

Acordei com uma mensagem pouco simpática: o tipo de quem gostei durante mais de dois anos teve um acidente de carro, para juntar ao de mota que lhe roubou a mobilidade do braço. Isto já é mau que chegue mas, para complementar a coisa, lembrei-me de que pensei nisto há uns dias. Quem é que imagina um gajo de quem gosta a ter um acidente de carro? Eu, por saber que ele não conduzia um carro adaptado. Estamos zangados, não conseguimos conversar, e eu fiquei um misto de arrepiada e preocupada.
Chorei.

Fui passar uma das minhas blusas preferidas a ferro - teria sido a terceira vez que a ia vestir, mas queimei-a antes disso. Pela primeira vez na minha vida, queimei uma peça de roupa a passar a ferro. E logo aquela!
Chorei.

Saí de casa. 
Estava bem disposta e ia a cantar a plenos pulmões, sozinha no carro. Estava tudo bem.
Depois apareceu um gato, à saída da autoestrada, que se lembrou de atravessar; entenda-se que eu sou o tipo de pessoa que já parou porque um passarito decidiu atravessar a estrada aos saltitos, eu já quase parei na autoestrada por causa de um husky, eu fiz sempre o que podia para não magoar nenhum animal - em mais de três anos de carta, foi hoje. Atropelei um gato, que é só o meu animal preferido. Pode ser uma estupidez, mas não me sai da cabeça o momento em que lhe passei por cima e o pobre do bicho a rebolar na estrada.
Chorei.

Fui entregar o cv a um veterinário. Estava lá um gato; olhei para o bicho e lembrei-me de que tinha matado um poucas horas antes. Fiquei carregada de culpa e a olhar para ele em jeito de I KILLED YOUR BROTHER!
Chorei.

Finalmente, sentei-me na cama. Tinha uma conversa pendente mas achei que seria algo tranquilo, não estava preocupada; demorei a conseguir ligar a net. Quando consegui, descobri que afinal havia pontos na conversa pendente capazes de me fazer sentir ainda mais merdosa. Como se não bastasse, o tipo fugiu dela e deixou-me a falar sozinha, por mais que lhe explicasse que isso só piorava e lhe tivesse tentado explicar que me faria mal ficar a imaginar o resto, tudo porque lhe falta coragem.
Chorei.
Bastante.

Tragam-me os chocolates, senão ainda digo um par de coisas de que não me vou orgulhar amanhã.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

este blog não é só desgraças

Os dias são o que queremos fazer deles - o dia de hoje poderia ter sido outro dia de desapontamento, mas não foi. Decidi que ia ser um dia bom: vesti roupa bonita, pelo menos aos meus olhos, meti o meu perfume preferido e saí a sorrir.

Bati a outra porta e fechei-a porque não gostei do que ouvi - hei de bater noutras e há de correr melhor. Mas hoje, finalmente, soube não desanimar; fiz um par de coisas que há uns tempos atrás não me imaginava a fazer e senti-me estupidamente bem com isso. Tenho muito para aprender ainda... a começar por mim mesma. 

Hoje foi um dia bom.
Foi mesmo.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

eu hoje tinha acordado feliz.

Quando era mais nova e gostava de alguém, era o mais parva que conseguia para a pessoa, até ele achar que eu não o suportava. Dessa forma, não lhe ocorreria que era por ele que o meu coração adolescente se dava ao luxo de bater descompassado - cresci a ensinar a mim mesma que não era suficientemente boa para gostar de alguém, que gostar era coisa de gente normal e eu nunca faria parte desse grupo.

Nessa altura, doía, mas tinha como trunfo a noção de que nunca havia tentado. Estava consciente de que o facto de ser impossível era uma lição que eu tinha ensinado a mim mesma, ninguém me disse, ninguém me mostrou. Ninguém me fez senti-lo: eu decidi que assim teria de ser.

Agora é diferente. É pior.
Passaram poucas pessoas pela minha vida, e pouquíssimas foram as que me tocaram realmente - ainda assim, parecem surgir com o propósito de me provar que, no final das contas, ensinei a mim mesma a lição certa durtante todos estes anos: eu não sou boa o suficiente. Já ouvi de tudo: que sou boa miúda, que tenho um coração do tamanho do mundo, que sou única, que é muito difícil encontrar alguém como eu. Mas que não chego. Na hora de ser mais, sou sempre deixada a gostar sozinha, a ser uma pepita de ouro ímpar que não merece mais do que um lugar na plateia. Falta sempre qualquer coisa. Sempre.

Sei que não sou bonita, que nunca o vou ser. Sei que não há roupas giras nem toneladas de maquilhagem que me façam parecer normal - não nasci normal e é assim que serei sempre. Também sei que não tenho o feitio mais fácil nem sou a encarnação da madre tereza de calcutá, além de que tenho medos e cicatrizes, colecionados ao longo de todos estes anos, que me tornam complicada. Sei de tudo isso, mas continuo a achar que não tenho defeitos que justifiquem isto - sentir que fico sempre aquém consome-me. Não sou capaz de entender o que me falta e porque raio parece que a felicidade me é sempre vetada. Eu não sou perfeita, mas merecia mais. Também merecia ser feliz volta e meia.

Estou cansada. 
O golpe mais duro é este: fazerem-te acreditar que está tudo bem, que és especial, que és única. Tratarem-te como tal. Mostrarem-te o outro lado, aquele em que sentes que alguém está ali por ti, que quer realmente estar ali por ti, que gosta genuinamente da pessoa que és, apesar de todas as tuas falhas. É veres o que fica do outro lado do muro onde achas que podias ser mais feliz. É sentires-te desejada por aquilo que és. Sentires que alguém olha para ti como se tivesse encontrado uma raridade que não está disposto a perder. É sentires-te inebriada por um turbilhão de sensações novas, habituares-te a elas. Começas a ser um bocadinho mais feliz porque te sentes especial, sentes que afinal és alguém passível de se gostar. Afinal vales a pena, vales alguma coisa!

E depois?
O típico: és uma excelente pessoa mas... não chega.

Nunca chega. Nunca dá.
O que és é um pequeno nada que nada vale. Foi sempre assim... e é assim que sempre será.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

solta a psicopata que há em ti

Há muitos anos que desconfio que há algo muito errado com a minha cabeça - volta e meia, sinto essa certeza a percorrer-me as veias e a transformar-se numa verdade absoluta e aterradora. Hoje é um desses dias.

Não tenho uma explicação lógica para este sonho: vivia numa casa com desconhecidos. Um deles era uma mulher, grávida, manienta até dizer chega, que dava ordens a todos os outros. Os outros eram homens, um deles parecia o chapeleiro louco da alice no país das maravilhas. A vida decorria tranquilamente - digo eu, que não me lembro desta parte - até que a mulher me mandou matar dois homens, além de um terceiro que já tinha sido morto por alguém.

Decapitei o chapeleiro louco, e esfaqueei um outro - lembro-me de que gostava dele e isso me custou particularmente -, em lágrimas. Quando vi o sangue a jorrar das feridas, passei a faca por cima como se estivesse a barrar uma torrada com manteiga.

Entretanto, fez-se luz: as pessoas iam descobrir que o meu crime e eu ia ser condenada. Eu, que não fazia mal a uma mosca, ia ser condenada pela morte de dois homens, concretizada a mando de uma puta manienta que, durante todo este processo, se lembrou de parir na sala ao lado e apareceu no fim, de criança nos braços, para me agradecer.

Quando acordei, ainda sentia o estômago a arder, tal era a minha aflição.
(interno-me ou...?)

cinderela e os caminhos apertados

[foi só no fim.
não foi durante aquele tempo todo. não foi enquanto me pedias que dissesse o que sentia. não foi quando me apertaste contra ti. não foi quando me deste beijinhos em todo o lado. 
foi no fim, quando te foste embora. quando te vi a afastar.
foi só no fim que me senti a afogar num mar de dúvidas, que me apeteceu ir atrás de ti e perguntar como é que tudo isto é sequer possível, em que mundo é que isto faz sentido - porque não faz. nenhum. 
demorei a sair dali, mas demorei muito mais a conseguir controlar as lágrimas; é uma espécie de tortura - uma tortura que sabe bem mas que, ainda assim, é uma tortura. não faz sentido nenhum, não tem como fazer. voltei para casa mais baralhada do que saí, mais incerta do passo a seguir do que estive neste tempo todo. 

o que é que eu ando a fazer com a minha vida?
parece que ando a ver se me mato.]

sábado, 18 de fevereiro de 2017

mixed feelings

É uma junção de ansiedade com nervosismo: de cada vez que penso no assunto, não sei dizer se fico bem, se fico mal, se fico mais ou menos. Imagino, uma e outra vez: na minha cabeça já desenhei todos os cenários possíveis, e escolho os piores para  afogar as expectativas, alimento-me com os melhores para não desanimar.

No fundo, só quero um abraço. No fundo, só quero que fique tudo bem.
Que seja.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

eu não tenho os parafusos todos

Quantos erros consegues cometer de uma só vez, cinderela? Uma infinitude deles.
Hoje eu não acordei particularmente bem disposta, mas acordei decidida a fazer as pazes com o meu passado e com a vida no geral. Enviei umas mensagens a pedir desculpa, meti a conversa em dia com pessoas que me aborreceram há uns tempos. Portuguesíssima, mal vi o sol decidi logo que hoje era dia de estrear uma daquelas blusas giras que comprei... no lidl. Ah, sim! Sou uma fã incondicional do lidl. Shame on me.

Quando saí de casa, até estava animada: visivelmente menos enchouriçada porque, pela primeira vez em muitos meses, não ostentava oito mil camisolas, sentia-me particularmente embonecada hoje. Manias. 

Tinha em mente oferecer um almoço a mim mesma, toute seule, e desfrutar dessa mesma companhia à beira mar para ver se me ajudava a alinhar as ideias de uma vez por todas. Tinha tudo para correr bem, não tinha? Tinha! E então, o que é que eu fiz? Estraguei tudo.

Correu tudo bem na parte do almoço, all by myself. Mas depois, num momento de lucidez duvidosa, peguei no telemóvel. O tipo estava mesmo ali ao lado, a menos de um quilómetro de mim, e eu pensei olha, safoda! Parecendo que não, eu sou moça de dar oportunidades às pessoas, e já tinham passado uns meses. Se eu sabia que este não era um desses casos? Sabia. E aceitei na mesma? Aceitei, sim. Porquê? Pelo mesmo motivo da primeira vez: não tinha mais nada para fazer. 

Arrependi-me na hora, é certo, mas já era tarde demais. A criatura parecia ter estado a estudar-me: questionou-me sobre coisas de que lhe tinha falado há uns meses atrás, aquando da outra semi-loucura, e quem estava a ficar louca era eu. 

Até contava a história, mas torna-se desnecessário - assim meio inspirada no my best friend's girl, estava a cometer todos os erros que julgo possíveis num encontro. E documentei-os em direto, para piorar a coisa, a um moço que se deve ter divertido bastante.





o drama, o horror, a tragédia

A única coisa pior do que anúncios de emprego onde são exigidos dois mil anos de experiência, são aqueles onde pedem... CV com foto.

Eu já não fui abençoada pelos deuses da beleza, que não fui, mas a coisa piora nas fotos - e, como qualquer gaja que se sabe demasiado feia para ficar bonita numa foto, faço o óbvio: cara de quem quer mostrar ao mundo que tem um atraso mental.

Sofri um bocadinho até encontrar uma foto razoavelmente decente, onde não estivesse com cara de foca amestrada, de monglóide ou a segurar plaquinhas com dizeres interessantes tipo e quando for eu a dar-te banho?!, vou-te amarrar à cama! - cenas de auxiliares - ou só vim para comer, que pelo menos é sincero e muito fiel à candidata, mas talvez não faça muito sentido na candidatura... a um ginásio.

Ironias.

o mundo em círculos

Acho particularmente querido que 95% dos anúncios de emprego sejam direcionados a pessoas jovens mas exijam experiência. Quando era pequenina e ainda brincava com a minha vizinha costumávamos fingir que tínhamos um restaurante. Será que conta?

(se não te aceitam porque não tens experiência... como que raio é que é suposto que a ganhes? há de ser obra para o espírito santo, de certeza. esse é que gosta das inexperientes.)

sobre as insónias

Os pensamentos surgem a uma velocidade que me entontece - penso nisto e naquilo, ligo os pontos, baralho-me, começo do início. É difícil traçar mapas de histórias que ficaram por contar; canso-me e finjo que sou capaz de esquecer, que não sou má nas pontas soltas e que sei dar-lhes um nó sozinha. Mas não sei.

Acordo mais confusa do que me deitei, mais perdida; nessa mania de não ouvir ninguém, já não sei onde está a minha própria voz, já nem eu sei o que penso. Soubesse eu - mas não sei. Parece loucura, porque talvez o seja mesmo. A loucura dos que estão perdidos e não se conseguem encontrar em parte alguma.

E então, a necessidade volta, a urgência instala-se outra vez. Respiro fundo... e vou ver o mar.
Um dia destes descubro o que fazer comigo mesma - espero que seja hoje. Espero que seja já.

mais ou menos isto

I know i knocked the table over because i watched the jar break
And i’ve been trying to repair it every single stupid day


(é diferente de tudo o que costumo ouvir e, mesmo assim, agora parece perfeita)

tu não sabes

[sou mais difícil de conquistar do que possas pensar: quando conheço alguém, eu quero realmente conhecer a pessoa. não quero saber o que fizeste hoje, quais são os teus planos para depois de amanhã nem onde compras a tua roupa. quero que me dês a mão e me faças uma visita guiada aos teus sonhos, que ganhes coragem e me mostres os teus medos. que me digas o que mais gostas de fazer quando ninguém está a ver e o que é que menos suportas nos outros. é difícil fazerem-me abrir a porta da minha vida, mas quando abro é a contar que tragam a bagagem toda e se instalem para sempre.
apanhaste-me desprevenida - trocaste-me as voltas, furaste-me os planos. foste um acidente, mas um acidente feliz. quando me dei conta, fiquei assustada. e, depois, como tudo em ti era calma, deixei-me mergulhar. ainda aqui estou; és demasiado peculiar, demasiado diferente. demasiado esquisito.  és tão estranho que não tenho como não gostar de cada pedaço de ti.
ainda acredito que encaixamos um no outro de forma perfeita. temos arestas por limar e juntos não fazemos a escultura mais bonita - precisamos de trabalho, talvez. talvez nem o melhor dos escultores consiga fazer milagres com esta estranha peça de arte feita de duas pessoas estranhíssimas - e depois? o sentimento é a massa mais consistente que existe entre dois corpos, e quando falhar que se foda: alguém há de varrer os cacos e esquecer a história, ou alguém há de tentar salvar-nos outra vez. sei lá.
acho que nunca te disse, mas o que gosto menos de fazer a mim mesma é contrariar as minhas próprias vontades - já foste apresentado à minha impulsividade da pior forma possível e não são grandes amigos. ela manda-te um beijo e pede desculpa pelo incómodo. somos difíceis: eu e ela. tu também, mais do que nós as duas juntas - mas hoje quase caí em tentação. gosto de ti e não gosto de mim - esta versão recém instalada que não sabe viver sem os joelhos encostados ao peito e as lágrimas nos olhos. não gosto desta pessoa: hoje quase fui a outra. a que arregaça as mangas e mostra que a raça de que é feita nunca permite desistências. aquela que aprendeu de cor a lição das perdas e que sabe que só se deve chorar a ausência dos mortos porque com os vivos há sempre volta a dar. há sempre como remendar um erro, há sempre um caminho de volta para onde fomos felizes, há sempre um amanhã para emendar um ontem de que não nos orgulhamos.
hoje fui uma marioneta nas mãos do orgulho que me consome: faltou dizer o que quero dizer, o que sinto que faz falta. a última peça. o último retoque na peça que ameaça desintegrar-se.
esquece tudo e vem - promete-me um abraço e marca a hora.
estarei lá uma hora antes e de braços abertos.]

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

this is not a love story

[somos diferentes: tu falas do amor como se fosse suposto senti-lo desde o primeiro instante, como se fosse rápido. já eu acho que o pobre só tem tão má fama porque anda de boca em boca, mal apregoado, sempre a ser confundido com a tesão. acredito-o lento. acredito-o calmo. nunca o senti por ninguém, mas tenho esta teoria de que é o primo que chega mais tarde, como forma inflacionada do carinho que existiu desde o início para que nós pudéssemos ser nós. não sei se vem depois de se extinguir o fulgor ansioso da paixão, ou se conseguem coexistir, mas espero que sim - pudesse eu e viveria apaixonada, de tão bem que me sabe esse acelerar simpático do coração.
o que sinto por ti não é amor. talvez seja precipitado falar em paixão também - lembras-te do que te disse sobre deixar as lâminas das portadas propositadamente abertas para acordar com luz no quarto? então é isso que sinto por ti: esses primeiros raios de sol que escapam entre frestas pequeninas e me fazem acordar bem disposta, num mundo que deixa de ser negro para ser de todas as cores possíveis. 
é um erro comum só nos darmos conta do quanto deixámos por aproveitar quando se torna numa lembrança - se eu pudesse, recuava um mês no tempo, voltava a sentar-me ao teu lado e a entrelaçar os dedos nos teus para não te deixar partir. mostrava-te o quão grata estava por te ter na minha vida; tentei fazê-lo muitas vezes, de muitas formas diferentes, mas não foi suficiente.
somos opostos: eu sou toda coração, tu és um exército inteiro de razão. volta e meia, releio a última coisa que te disse, a maior mensagem que escrevi na minha vida: não chorei quando a escrevi, mas choro agora. estava zangada, farta de que me adiasses na esperança de que eu mudasse de ideias - foi a forma de encontrei de te dar uma última oportunidade. temos todos, sem exceção, essa mania de esticar a corda enquanto a sentimos bem presa na outra ponta. soltei-a por cansaço, não nego, e porque achei que estava na hora do vamu vê? - perdeste-me, e agora? vais lutar por mim?
agora nada. não valho a luta.
previa isto mas não deixa de me magoar, dia após dia. as palavras ora escasseiam ora se atropelam umas às outras numa onda de frustração: não entendo. por mais que tente, não sou capaz de entender.
fiz asneira, não nego. mas tu também - e, no final de contas, não consigo compreender que não vejas que somos e seremos sempre ambos falíveis. que isso é intrínseco à nossa condição de seres humanos. que não somos perfeitos, mas não faz mal - imperfeição daqui, imperfeição dali, as pessoas acertam os relógios e o passo na mesma. mas não nós. nós já não.
tenho saudades de ti todos os dias - já pensei em matar o pássaro, de uma vez por todas - mas não estaria a ser fiel a mim mesma se deixasse de escrever sobre o que sinto só por orgulho, só para que não vejas que estou a sofrer com isto. 
hás de voltar àquele parque. hás de olhar para o mesmo banco e lembrar-te das horas que passámos ali - com sorte, ele vai estar lá. ele, o passarito de peito laranja, o famoso pássaro do parque - ele não te vai perguntar por mim, mas tu vais lembrar-te na mesma. vais sentir a minha falta?
espero que sim.
tanto quanto eu sinto a tua.]

ando sempre semi desaparecida.

Não importa quantas vezes eu conte tudo o que me aconteceu no último ano e meio: as pessoas vão continuar a não perceber como é que cheguei a este ponto de desespero, de desânimo, de desamor. Desamor pela vida, essencialmente.

Dentro e fora de mim, é difícil encontrar pontos positivos: a minha vida é um carrocel estranho que sobe três metros e desce oito quilómetros a pique, de forma misteriosa e aparentemente impossível. Talvez não seja bem assim - se calhar é o desenrolar constante de tramas infelizes que me fazem encarar cada acontecimento banal como algo catastrófico. Não digo que não - mas o cansaço é tanto e preciso tanto de momentos felizes que sinto que posso cair de joelhos a qualquer instante.

Posso dizer mil vezes, e vão continuar a não entender o vazio que trago no peito.
É como se nada batesse certo. Olho à minha volta e vejo as pessoas a seguirem com as suas vidas, a serem felizes, a sentirem-se especiais, e não encontro o meu lugar no meio dessa multidão. Sinto-me sozinha, estupidamente sozinha, e farta: os poucos momentos bons que escapam à regra parecem só servir para me torturar mais no fim. Porque tudo passa, menos esta fase filha da puta em que mergulhei de cabeça. Há um ano e meio.

A maior parte dos dias parecem-me um desperdício de tempo: deito-me tarde e adormeço embalada pelas lágrimas. Acordo frustrantemente tarde também, mas sem pressa - a sensação de inutilidade é mais poderosa do que qualquer outra que se lhe tente impôr. Quero sair disto mas falta-me força, falta-me coragem, falta-me apoio.

Voltaram os ataques de ansiedade - a sensação de que o ar não me chega, de que o coração me quer saltar do peito. O corpo trémulo, o pensamento confuso. A sensação de que está tudo errado que só é substituída por essa mesma certeza - e as lágrimas. Não tive saudades do tempo em que eram uma constante, mas decidiram reinstalar-se em mim.

Foi hoje. 
Foi hoje que me caíu a ficha, foi hoje que chorei tudo o que tenho andado a esconder de mim mesma para me esquecer. Mas não esqueci - e foi hoje. Foi hoje que chorei tudo o que não entendo.
E continuo.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

aujourd 'hui

[deixa-me explicar-te: a minha vida não está drasticamente mais difícil agora que não estás aqui.
acordo tarde e demoro a levantar-me, com a mesma falta de vontade de quem não tem mais onde ir. arrasto-me entre divisões, prendo o cabelo num carrapito para nem me preocupar a penteá-lo, repito as mesmas roupas velhas para as tarefas de sempre. olho o telemóvel uma e outra vez, numa ansiedade iludida, mas nunca és tu - ainda espero por ti, qual guerreiro, que me salva num último golpe de coragem e de fé, mas nada muda. adio as saídas de casa porque não estarás no meu destino. a desmotivação mascara-se de perguiça, o mal estár físico surge para perdoar o psicológico, embora saiba que é mais ao contrário: em todas as piores fases da minha vida, tive o dom de me pôr doente sem saber porquê. esta é uma dessas.
hoje vou sair: cobri a face de maquilhagem para disfarçar uma palidez que nunca me foi característica. contornei os olhos para os fazer parecer menos vazios e mais ávidos: mascarei-me de outra mais feliz, mais bonita, com os sonhos menos corroídos e a esperança menos gasta. o horizonte é agora um traço mal desenhado que não me parece mais feliz desde que deixaste de lhe pertencer: hoje é terça. deveria ter memórias frescas de ti, e aquela ansiedade boa, tão boa, de te voltar a ver em breve. era o suficiente para me alimentar o ânimo fraco nos tempos em que me restavam dias quentes.
tenho saudades de ti. sem ti na minha vida só me restam dias iguais, mornos, mais frios que quentes mas, ainda assim, mornos. restam-me palavras soltas que aponto para não me esquecer, esperas vãs e expectativas mortas: a minha vida não está mais drasticamente mais difícil agora que não estás aqui mas, posso jurar, era mais feliz quando te tinha comigo.]

sabem que dia é hoje? (dois corações seguidos)

Cá estamos nós outra vez: solteiríssimos desta vida, sem ninguém a quem mandar uma mensagem pirosa pontuada com oito corações e três emoticon daqueles com casais felizes, famílias inteiras felizes, cães e gatos que sorriem, e por aí em diante.

Hoje não vamos receber o típico ursinho piroso com a almofadinha a dizer i love you comprado ontem, na loja dos chineses, dois minutos antes da loja fechar. E, eventualmente, vamos desligar as redes sociais para não levar com os testamentos manhosos trocados entre namorados, ali à vista de todos, só para nos esfregar na cara que estamos solteiros. E que eles vão pinar enquanto a nossa vida sexual está tão ativa quanto a do mário soares. Well done.

Então, este post é para vocês: larguem os lenços, dêem pausa às comédias românticas - ao porno também - e párem de chorar a cantar a all by myself porque hoje se sentem mais miseráveis ainda. 

Já que tenho prometido tornar-me na próxima mestre mambo-fêmea, heroína macumbeira das relações condenadas ao fracasso, aqui têm: sintam-se à vontade para dizer, anonimamente ou não, tudo o que vos vai na alma e não podem dizer à pessoa em questão. Escrevam declarações de amor, declarações de ódio, amaldiçoem a gostosa que agora anda a sair com o tipo, desejem-lhe uma verruga no pé - acreditem que dói! - ou um par de hemorróidas novinhas à estreia.

Digam o que quiserem, mas desabafem. Façam-me rir, façam-me chorar, façam-me desejar nunca ter escrito este post - o dia é vosso. Entretenham-me. Se se justificar, fazemos uma compilação de desastrees amorosos.

Let the game begin.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

este não é um texto infeliz

Talvez eu não seja o amor da tua vida.
Cresci a acreditar nas coisas horríveis que diziam a meu respeito. Esforcei-me por aprender de cor todas as lições que saiam da boca dos outros, fiz os possíveis para me convencer de que era uma ousadia fingir ser normal quando, logo após a minha conceção, houve um grupo de genes que decidiram condenar-me ao abismo da diferença. O mundo era uma peça de roupa que não me assentava bem no corpo porque eu não lhe pertencia. De alguma forma, achei-me inferior a minha vida toda.

A mulher que sou hoje é um baú cheio de recordações amargas colecionadas durante os anos de escola - ensinaram-me que eu não valia nada por ser diferente, porque seria sempre a mais feia, a mais anormal, e eu decidi esquecer-me da minha própria existência para parar de desejar não existir. Mas sabes? Eu não sou assim tão má.

Não sou bonita, mas há mulheres mais feias. Também não sou magra, mas já fui muito mais gorda. Posso não ser a mais inteligente de todas, mas não sou assim tão burra. Abuso mais no sorriso do que na maquilhagem, e sou difícil de conquistar mas, posso garantir, quando gosto, gosto com cada átomo do meu corpo.

Decoro-te com o prazer de quem decora a letra da sua música preferida, e escrevo sobre ti com paixão como se me sentisse capaz de te amar para sempre, mesmo que não acredite que passemos de amanhã. Mesmo que o que sinto não passe de um sopro bom, capaz de me acelerar o coração, garanto, trato-te como se fosse um furacão inteiro. Porque sou intensa e entrego-me ao que sinto de corpo e alma.

Tenho mil e um defeitos; às vezes falo demasiado alto e outras rio-me tão descontroladamente que ronco. Não tenho jeito nenhum para arranjar as unhas e andam sempre pitadas que mete dó. Nunca te contei, mas se calhar tenho mais barba do que alguns dos teus amigos: estão sempre a crescer-me dois ou três pêlos pretos no queixo e tenho de me livrar deles com a pinça. Lavo o cabelo dia sim dia não, mas se não for sair de casa sou menina para saltar o dia de lhe espetar com champô, amaciador, máscara, mais um creme esquisito para regenerar pontas e um sérum quando o estico mais um spray sabe deus para quê - porque chateia e porque faz mal. E a barriga? Não sabes mas sou cheia de cicatrizes made with love de uma saúde que nunca gostou muito de mim - mas as piores são aquelas que não se veem e que me tornam em alguém que não suportas.

Sou má a confiar: tenho de confessar que vivo condicionada pelas ideias fundadas no passado e isso transforma-me em alguém doentio de quem eu própria não consigo gostar. Não tenho prazer nenhum ao duvidar e sofro muito mais com isso do que algum dia poderias imaginar - ainda me inferiorizo, ainda acho que perco para qualquer outra mulher porque todas elas são melhores do que eu pelo simples facto de serem normais. Em qualquer grupo de mulheres, sinto-me o gordo que é sempre o último a ser escolhido nas aulas de educação física. Imaginas o medo que tenho de perder sempre que me sou atacada pela vulnerabilidade do gostar?

No meio delas, quem é que me escolheria? Porquê eu? Fácil - porque sou eu. E não sou a última bolacha do pacote, não sou uma pepita de ouro, talvez nem sequer tenha nada de extraordinário, mas existo e vou até às últimas consequências de tudo aquilo em que me empenho. Sofro de um coração demasiado leal que faz as malas e jura a pés juntos que não volta mas, podes ter a certeza, se precisares de mim, eu acampo no jardim. Movo meio mundo se isso te fizer mais feliz - também sou má a desistir, sou má a ir embora. Sou má a arrumar os cacos e seguir em frente.

Gosto de ti e não tenho quaisquer dúvidas de que serias capaz de me fazer gostar muito mais, mas não soubeste lutar por mim. Dizeres-me que sou única é bonito mas não chega. Dizeres que tenho coisas que não encontras em mais ninguém é igualmente querido, mas também não é suficiente. Precisava que tivesses lutado por mim, que percebesses que as pessoas de quem gostamos não são feitas segundo os nossos critérios. As pessoas de quem gostamos são as pessoas de quem gostamos e ponto final. Com virtudes e defeitos, sem serem semi-deuses, sem serem super heróis.

Gostar de ti também implicou aceitar as coisas de que não gosto - a tua indecisão apoquenta a minha impulsividade. Não sou de rodeios porque, o que quero, quero para ontem - esperar semanas por uma resposta que me sinto capaz de dar em três segundos é desesperante. Mas queres saber? Até com isso eu aprendi a lidar, porque é isso que fazes com os defeitos de quem vale realmente a pena. E acredita que me vais fazer falta todos os dias, porque vai ser difícil encontrar alguém como tu - mas não posso fazer nada se não fazes questão de me manter ao teu lado. Queria que tivesses lutado por mim. Para te ser franca, ainda quero.

Há, de facto, erros imperdoáveis, há defeitos incontornáveis, pessoas insuportáveis. Permite-me a presunção: não creio que me insira em qualquer das categorias. Quer queiras quer não, valho mais do que isto. Sou bem mais do que os meus defeitos e esforcei-me mais por ti do que se irá esforçar a grande maioria das mulheres que cruzarão a tua vida a seguir, porque não terão paciência para esperar como eu esperei. Queres uma deusa perfeita, eu sou só eu, tenho um monte de defeitos mas, mesmo assim, não sou assim tão pouco quanto isso - vais acabar a procurar em outras o que encontraste em mim, mas com um feitio mais domável. Boa sorte com isso. Dei-te tempo, tentei que te decidisses - e, de entre todas as opções, escolheste deixar-me ir. Não é por ser a que vai embora que me dói menos; dói pra caralho. Mas, se me queres na tua vida, tens de aprender a demonstrá-lo. A prender. A agir. Tens de cometer meia dúzia de loucuras de vez em quando e provar que vale a pena ficar. Eu teria ficado se assim fosse - se calhar, ainda voltaria atrás, porque é isto que eu sou. Vivo para o que me faz acelerar o coração.

Talvez eu não seja o amor da tua vida... mas, ah, meu amigo, tu ainda vais lamentar ter-me perdido por uma estupidez.

eventualmente,


domingo, 12 de fevereiro de 2017

pesadelos

Tenho estado debruçada sobre esta questão mas não me consigo decidir:

será que o que me assusta mais é existirem ténis com pompons ou eu conhecer gente que era capaz de usar isto?

.

[nós somos dois pólos opostos: na corrida da vida, és o que prefere caminhar lentamente para garantir que o piso é seguro e evitar quedas. eu prefiro lançar-me sem olhar porque me apetece ir; às vezes desacelero o passo, outras vezes sinto que vou parar a qualquer momento, mas nunca páro enquanto sinto que vale a pena correr. caio, choramingo um bocado mas volto a correr mesmo de joelho esfolado e dignidade ferida. tu cais e desistes.
trocas-me as voltas a toda a hora; fecho-te a porta mas deixo uma chave suplente, do lado de fora, debaixo do tapete. prometo a mim mesma que não te dou uma segunda oportunidade mas, não só a ofereço de bandeja, como começo logo a amornar a terceira e a quarta. somos dois opostos impossíveis: tu esmiúças a razão, eu deixo o coração berrar-me aos ouvidos e faço o que ele manda. 
gostar é simples e não cabem desculpas no verbo. pelo menos eu não as conheço porque gosto de usar tudo quanto sou em tudo quanto sinto. 
os sentimentos não cabem em regras, em tratados, em teorias - cabem na simplicidade genuina do sentir só porque sim. as barreiras são uma desculpa dos que não se esforçam para as ultrapassar; quem quer, realmente, ver como é o mundo do outro lado, nem nota que existem.
quando fecho os olhos, vejo-te comigo outra vez. faço de conta de que as últimas semanas não existiram e que ainda há um espaço para nós naquele outro tempo em que tudo estava bem. mas já só existe em memórias: se pudesse, escrevia-nos um final feliz. se pudesse, não te largava a mão, agora, para nunca mais a voltar a agarrar. mas não posso ficar e fingir que não aconteceu, que não fomos mais, que não quero mais, porque é isso mesmo: eu quero mais. gosto de ti e é impossível contrariar isso se continuar a gostar um bocadinho mais todos os dias. 
é por isso que não posso ficar.]

faleceste, cinderela?

Não, ilustres alforrecas, esta cinderela não faleceu - mas, cansada de ser pobre, decidiu colecionar uns cristais no labirinto, o que é um bocadinho chato de se fazer, diga-se de passagem.

Os comprimidos são mais milagrosos do que viagra em velhinhos e é certo que, logo depois do primeiro, voltei a conseguir andar razoavelmente equilibrada sem ameaças de queda a cada dois minutos. Em contrapartida, dão-me tanto sono que me deixam atordoada e meio apática - o doutorzinho bonito mandou-me tomar a caixa até ao fim mas não me estou a ver a aguentar mais 47 comprimidos destes, sob pena de adormecer em pé.

Oremos.

sábado, 11 de fevereiro de 2017

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

não tenho jeito para esperas

[o mal das esperas é que não te deixam ir a lado nenhum: ficas parado, na esquina do tempo, a espreitar para um lado e para o outro sem saber para onde ir. de um lado vejo o passado, o que fomos no tempo em que éramos alguma coisa, e do outro vejo um rol de sonhos e uma história fantasiada cheia de felicidade. vejo-nos a nós.
não tenho coragem de ir porque prometi que esperava; enterro as mãos nos bolsos para disfarçar o nervosismo e entretanho-me a embaciar, com o meu bafo quente, os pedaços de vidro que restam nas janelas geladas de uma casa qualquer tão abandonada quanto eu. sinto a tua falta. se não sentisse, não estaria aqui.
ouço passos e penso sempre que és tu. uma ou outra vez perguntam-me se preciso de alguma coisa, eu sorrio-lhes e minto: não. mas preciso; preciso de ti.
perdemos demasiado tempo, sabes? com teses, com teorias abstratas, com medos infundados e pensamentos fúteis. deliberamos demasiado, metemos demasiado nos pratos da balança e nunca chegamos a perceber para que lado pende e se isso nos importa assim tanto. complicamos demasiado, atribuímos regras desnecessárias e que nunca nos levam a lado nenhum. e aqui estou eu, à tua espera. às vezes mudo de posição e ensaio poses para que chegues e tenhas a certeza de que queres ficar. outras vezes sento-me no chão, derrotada, sem me preocupar com os rastos de lama que começam por me cobrir as roupas: não fará diferença, pois não?
olho para o relógio e ele não pára; mais depressa se cansa a pilha do que o tempo que parece inesgotável quando a ideia é manter-nos em suspenso. hoje queria o teu colo: estou rabujenta. os comprimidos prometem aliviar-me as tonturas mas não me curam as saudades nem a vontade de te abraçar. isso... ah, isso ninguém me tira.
tenho sonhado com um reencontro. sonho acordada, a toda a hora, que ainda volto a sentir o cheiro da tua pele e a sentir o teu coração descompassado a bater contra o meu próprio peito. quando me distraio e esqueço que as probabilidades não estão a nosso favor, sonho que fazemos sentido outra vez, que acabas por voltar e me puxas para ti. ficar à tua espera sem saber se vens é a minha mais recente forma de tortura: se quiseres vir, o teu lugar no meu coração continua intocável. se não quieseres, também.
penso muitas vezes em tudo o que te quero dizer: tenho o discurso pronto e os braços abertos para te receber. por favor... vem. vem e não te demores - mal posso esperar para me perder em ti.]

vou para o inferno mas vou a rir-me

As primeiras horas de treino para a conquista histórica estão a correr às mil maravilhas. Começou por me mostrar uma música da adriana calcanhoto - expliquei-lhe que não gostava, mais para o chatear do que outra coisa; apesar de não adorar, não é horrível. Para ver se me acertava no gosto, mostrou-me non servium, assim em jeito de passar do 8 ao 80. Eu também sou moça para gostar de música pesada mas isto é mau demais até para mim.

- afinal de que é que tu gostas?!


(de ser irritante, essencialmente,)

perks of being sick

Eu gosto muito da área da saúde, gosto muito do hospital e tudo e tudo, mas o caso muda de figura quando é a minha saúde que falha e tenho de recorrer aos médicos - sou das chatas, das que evitam ao máximo, das que só vão arrastadas. Mas hoje lá calhou.

No entanto, tive sorte. Sabem quando o médico é tão giro que vocês já entram no consultório a perguntar:

- então, posso-me despir?

Antes mesmo do pobre doutorzinho ter tempo para me perguntar quais são as queixas. Uma pessoa fita-o, olhos nos olhos, o sangue a ferver nas veias, a doença a escapulir-se do corpo.

- dói-me o ouvido e tenho muitas tonturas.
- vou ter de observar o ouv...
- posso-me despir?

Explica-me que não será necessário e eu choro um bocadinho por dentro. Pergunta-me se tenho mais alguma queixa. Reflito.

- sim, dói-me aqui (aponto para um lugar indefinido, algures debaixo da roupa)
- onde?
- aqui (repito o processo)
- não estou a perceber...
- e agora... posso-me despir?


(para almas viajadas e que me achem ainda mais louca do que sou realmente: isto NÃO aconteceu)

as merdas que eu faço

Há muitas maneiras estúpidas de passar o tempo e eu achei que tinha atingido o auge quando dei por mim a pesquisar a diferença entre panquecas e crepes - no entanto, há formas ainda mais absurdas de uma pessoa se entreter e eu acabei de pôr outra em prática.

E qual é, cinderela?, perguntam vocês.

Quem anda pela página, já está familiarizado com a existência de uma criatura erudita que se propõe a fazer-me uma excursão aos prazeres da carne - não fosse o excesso de tempo livre, já o teria bloqueado, mas confesso que me dá um certo gozo ir vendo até onde ele é capaz de ir, e tenho-me divertido a treinar o sarcasmo.

Ele está convencido de que eu estou só a fazer-me de difícil mas que até era moça para lhe cair aos pés - não estou. A verdade é que, mesmo que em algum momento ele tivesse tido qualquer hipótese, tê-la-ia perdido quando decidiu dar numa de trolha e dizer apetece-me dar-te uma trinca. E repete, porque continua a pensar que isso surte algum efeito positivo em mim. E tu, cinderela? Eu rio-me. 

Acha que estou só armada em bad girl: para lhe provar o contrário, dei-lhe um prazo.
Tem 15 dias - e ele acha que só precisa de 10 - para me conquistar. Nem mais nem menos; só me pediu para ter o dia de hoje para me estudar. Aposto que já abriu um site brasileiro com dicas de trolha.

O pobre acredita mesmo que vai conseguir - já eu, começo a achar que arranjei matéria para escrever durante os próximos 15 dias; ou não. Na volta canso-me antes disso e mando-o de volta para o útero da mãezinha dele.

Aguardemos.

o mundo gira à minha volta

Não há nada a fazer mesmo: como a princesa que sou, acordei ainda antes das sete da manhã, depois de menos de quatro magníficas horas de sono, porque me sentia a afogar em expetoração e parecia que alguém tinha atirado a minha cama para dentro da tacinha da batedeira. Horas depois, continuo exatamente igual - movimentos como levantar, deitar ou, simplesmente, virar a cabeça depressa, dão-me a sensação de que o cérebro está a dar uma rave e tenciona saltar-me da orelha. Sabe deus porquê.

Esta cinderela, hoje, é o centro do mundo.

wish you the best

Um dia perguntei-te se alguma vez tinhas sentido que não eras bom o suficiente; estava deitada, tinha a cabeça no teu colo e nem queria acreditar nas palavras que te saíam da boca. Quando acabaste, não fui capaz de te responder logo - abracei-te com a força de quem gosta demasiado de ti para te ver sofrer. Lembro-me de que estranhaste o meu silêncio; mais do que dizer-te como eu me sentia, queria que o sentisses também.

Tu não és bom o suficiente - és muito mais do que isso. Pelo menos para mim. E, mesmo agora, com um pé de cada lado da fronteira entre o ser e o não ser, não me arrependo de um único segundo passado ao teu lado, do tempo que te dediquei, do que ainda te dedico, como estas palavras que te escrevo - seja qual for o nosso fim, quero que saibas o que vales e o quão especial te acho.

És um eterno desalinhado: se os homens fossem feitos em série, tu serias aquele que fugiu do tapete só para contrariar as tendências - tu nem gostas por aí além da ideia de ser diferente, mas és. E eu gosto tanto disso, caramba!

Contigo tive de me habituar a não esperar o habitual - surpreendes-me todos os dias por essa forma de ser avessa a tudo o que parece ser o normal, e esse teu jeito estranho de ser foi o que me fez começar a tropeçar por ti em primeiro lugar.

Adoro a forma meticulosa como escolhes as palavras, como as arrumas nas gavetas certas e as usas no momento ideal; ouvir-te dizer que adoras algo em mim tem um sabor diferente de o ouvir de outra pessoa qualquer porque, quando dizes que adoras, eu sei que adoras mesmo e que te recusas a usar palavras com um peso diferente daquilo que sentes.

Gosto que te dês ao trabalho de pensar sobre as coisas e digas o que pensas nem que para isso tenhas de escrever uma mensagem com extensão suficiente para ser a transcrição da bíblia. Adoro o facto de seres inteligente e estares sempre pronto, tanto para ensinar quanto para aprender - explicaste-me que, se suster a respiração, não me pico ao tocar nas urtigas, mas enviaste-me uma foto a preto e branco porque mexeste no telemóvel e, sem saber como, as fotos começaram a sair todas assim; adorei que tivesses tanto de homem quanto de miúdo, tanto de sábio quanto de inocente. 

Também gosto de ti porque não sabes nadar mas gostas de ficar deitado a sentir as ondas baterem-te no corpo, porque não tens medo de demonstrar que choras. E gosto das tuas mãos grandes, sempre geladas, com as unhas mal cortadas. Da forma simples como te vestes e da maneira como tentas nunca julgar os outros. Reparas nas coisas, comentas, mas nunca és mau: és só observador. 

Guardo comigo cada momento em que não me deixaste olhar para ti porque, para isso, teria de estar demasiado afastada, e todos os outros em que quiseste ficar só a observar-me, sem nada dizer. Guardo todos os momentos em que disseste algo querido ou embaraçoso e ficaste tão atrapalhado que escondeste a cara no meu ombro - sempre adorei essa combinação de segurança com timidez, já agora. Não havia como não adorar.

Tivémos momentos maus, sim - mas voltaria a fazer 90km, doente, só para passar 2 horas contigo dentro do carro, por ser o possível. Voltaria a fazer isso e muito mais porque há pessoas que valem o mundo: nunca deixes que te convençam de que vales menos do que isso. Por favor, nunca mais sintas que não és bom o suficiente.

Seja qual for o desfecho do que fomos, guardo-te com o maior carinho. E, se arrependimentos os houver... há de ser a forma tola como perdi alguém tão especial quanto tu. Mas, comigo ou sem mim, quero que sejas feliz, porque o mereces.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

pequenos milagres

Tenho respondido a todos os anúncios de emprego que me parecem viáveis - há que ter tento: não tenho grande perfil para tratorista nem para servente -, mas já começa a ser hábito nem chegar a ter feedback. A pessoa envia, envia, envia, e nem chega a saber se ele chegou lá ou se até um pombo correio era mais seguro do que o email. E chateia, que chateia, nunca obter resposta.

Ontem respondi Ao Anúncio, o anúncio dos anúncios, o ferrari dos anúncios, porque estou certa de que era algo que eu iria adorar fazer - sem esperança, confesso, porque nem dava para perceber se preencho os requisitos mínimos ou não. Anyway, enviei, só para o caso.

E hoje... badum tsssss... eles responderam!


Os poucos neurónios que ainda não me abandonaram bateram palmas. Iniciei o meu discurso de agradecimento, aos meus pais, aos meus avós, ao google, à wikipédia, à dona maria da loja, à minha professora da escola primária, ao dermatologista que me tratou a verruga no pé. Aconteceu, caramba!



Não era sequer para marcar uma entrevista - era só para confirmar a receção da minha candidatura e para me informar de que estão a avaliar o perfil dos candidatos. Ainda assim, apeteceu-me responder-lhes a agradecer a honra de ter tido direito a uma resposta, mas contive-me como pessoa equilibrada que (às vezes) sou.

erros fatais em chats de grupo

O título foi só para causar impacto porque, em boa verdade, não podem existir erros fatais em chats de grupo, certo? Errado! Se eu for uma das pessoas desse grupo, vocês estarão em perigo de vida porque eu sou demasiado nervosinha e a minha tolerância é limitada.

Uma das coisas que mais me enervam - e note-se que enervar é eufemismo; nervosa é como eu fico quando tenho um papa reformas a andar à minha frente e não posso ultrapassar, com isto eu fico mesmo à beira de esventrar alguém - é aquela gente que, não tendo mais nada que dizer, envia o likezinho pré-definido ou qualquer outro emoji escolhido entretanto. Gente, é fácil: se não têm nada a dizer, não digam nada. Simples, não é? 

Outra coisa que me põe fora de mim são as batalhas de stickers. Não sei se já se aperceberam mas... todos temos stickers. To-dos. Entrar no facebook e ter 237 mensagens, das quais 202 são stickers e as outras são frases curtas espalhadas lá pelo meio... chateia.

Deixem os stickers para as vossas mães, para as vossas avós, para as tias, para a dona celeste lá da loja que vos comenta as fotos todas com um cão a mandar beijinho - that's okay. Agora, não façam isto tudo e esperem que, ainda assim, eu vá ler as mensagens rápido: na maior parte do tempo, as notificações estarão desativadas e eu só lá vou voltar três meses depois. 

Não é por mal - é por um bem maior. É para evitar cometer homicídios em barda.
Sejam simpáticos, não façam estas coisas.

quantificar o inquantificável, lá está

Sonhei que tinha recebido uma mensagem do rapaz a dizer:
a minha concordância com a tua proposta é de cerca de 39%
Acordei com a noção de que tinha sido um tanto ou quanto ridículo mas, não fosse o diabo tecê-las, senti necessidade de ir confirmar se era ou não verdade. Graças a deus e aos níveis de sanidade mental dentro dos parâmetros aceitáveis, não era - já os meus começam a ser algo duvidosos.

escola para corações

Não é raro dar por mim a observar casais de velhinhos e a perguntar-me de que massa é feita um amor assim: enternece-me ver um par de cabeleiras brancas, duas mãos engelhadas enlaçadas e os passos, mais ou menos curtos, dados lado a lado, como dois artistas premiados que caminham em direção ao óscar: conseguimos aguentar. Até que a morte nos separe.

Invejo essas histórias, talvez: os casamentos de hoje já não são feitos para durar 50 ou 60 anos. O amor caiu em desuso e os amores para sempre são um mito: os corações são mais bem educados do que os próprios filhos, estão prontos para aniquilar o parceiro à mínima falha, e cada relação não é mais do que a transição entre a anterior e a seguinte. O amor não dura porque as pessoas não estão para se chatear e desistem umas das outras porque dá menos trabalho do que lutar.

Não há amores perfeitos: mesmo esses, os que duram, tiveram de se manter firmes quando a terra por baixo dos pés estremeceu. É impossível que se tenham entendido à primeira. É impossível que, mesmo ao fim de 60 anos de casados, não se desentendam de vez em quando – mas não se amam menos por isso. É o que nos falta, a todos nós: a capacidade de aceitar que não vamos concordar com tudo o que o outro faz, e não há mal nenhum nisso. Faz parte.

Vivemos descontentes, sempre com sede de mais. Queremos gente perfeita, que ande ao nosso ritmo, que ouça a mesma música, que pense de igual forma, que goste tanto de bacalhau com natas quanto nós. Treinamo-nos para gostar de quem nos preenche todas as medidas, de quem consegue satisfazer todas as nossas exigências. E, quando conseguimos, aumentamos a lista e partimos para outra.

Podemos estar loucos de amor por um homem que sabe fazer massa como ninguém, mas um dia acordamos e percebemos que isso não chega: queremos um homem capaz de fazer massa como ninguém e o melhor arroz do mundo. Ficamos descontentes, achamos que merecemos mais do que um inútil que sabe fazer massa mas não percebe nada de arroz – deitamos tudo a perder e partimos para outra.

Se algum dia encontrarmos o expert em massa e arroz, vamos lembrar-nos de que nos faltam batatas e ninguém pode viver só de massa e arroz: passamos a vida toda à espera de um poiso certo, saltitamos de um lugar para outro, destruímos os nossos sítios felizes e ensaiamos uma infelicidade baseada no descontentamento injusto dos que acham que o mundo tem de se render a seus pés. Não tem. A sério.
No que toca a sentimentos faz-nos falta o descontrolo. O gostar só porque se gosta, como se gosta. Porque sim – e gostar muito, apesar de não nos conseguirmos entender com a quantidade de sal na sopa, apesar dele não gostar da roupa que eu uso, apesar de me enervar que chegue a casa tão tarde. Gostar aceitando que se pode gostar muito sem se gostar de tudo – talvez seja esse o princípio para que não se antecipe o fim.

E este texto poderia ser para uma pessoa em especial, mas não é – é para todos, incluindo para mim mesma, como nota futura: exigimos demasiado até daquilo que nos faz felizes porque acreditamos sempre que poderíamos ser muito mais. O mal está em racionalizar, em comparar, em misturar razão com emoção, em pesar prós e contras, em quantificar o inquantificável: deixem-se de merdas e sejam felizes.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

ri-me mais do que me orgulho

Ainda não consegui perceber em que fase da vida é que os funerais começam a parecer um bom programa e os velhotes andam sempre à procura da próxima festa. Só que, nestas festas, não há copos de vinho - só água benta, gente chorosa e um morto. Os meus avós estão nessa fase em que os correm todos, e de nada adianta tentar explicar-lhes que é inútil porque os atuais defuntos não irão aos funerais deles também.

E então, hoje encontrei-os à conversa. A dada altura, o meu avô diz:
- a vizinha diz que depois também vai ao cemitério para dar os parabéns.


Até me engasguei.

o velho problema

Fico sempre um bocadinho intrigada quando vejo fotos de gajas bem vestidinhas e maquilhadas com a descrição domingos em casa e trezentas hashtags #comfy #cozy #stayingathome #chill #couchpotato. O que me intriga não é ficarem em casa - é darem-se ao trabalho de se enfeitarem todas só para o gato - agora entram oito gajas aos gritos ARRANJAM-SE PARA ELAS MESMAS!

Ok.
No entanto, esta cinderela, que de princesa tem pouco, em casa gosta mesmo é de andar mascarada de mendigo com roupa velha e larga, mas suficientemente confortável para aterrar no sofá como se estivesse de pijama. E, se às vezes nem para sair tenho pachorra para me maquilhar, quanto mais para ficar a encher o sofá de base, adormecer e acordar com o eyeliner a escorrer, tipo panda. Credo.

Eu não nasci para ser gaja.

lontras will be lontras, take mil

Eu bem que andava a portar-me bem e a disfarçar as necessidades com cházinho, mas aproveitei a desculpa de estar outra vez em baixo esta noite para limpar mais de metade de um milka oreo.


Estou a tentar não enfardar o resto.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

a sorte é ser tão simpático que eu nem consigo ser má

Passaram-se meses: foi num dia em que eu não tinha mais nada para fazer que lá cedi aos pedidos da criatura e aceitei tomar um café. Claro que o café converteu-se única e exclusivamente numa caminhada no meu sítio preferido e nem houve café nenhum. Mas foi mais do que suficiente. Na verdade, não era com ele que me apetecia estar.

O primeiro sinal de alerta foi a insistência em chegar-se para mim. É preciso que entendam que um cu deste tamanho não se manobra em espaços apertados e eu adoro conseguir andar sem o roça-roça constante dos ombros e ancas. Eu afastava-me, ele chegava-se mais. Voltava a afastar-me, voltava a chegar-se - and so on.

Não é que seja mau rapaz, que não é. É muito simpático e educado mas a conversa com ele é tão interessante que eu preferia estar sentada com um grupo de velhinhas a ouvir as avé marias na rádio. Não houve aquele click - mas tudo bem, podíamos ser amigos, certo? Nah.

Chegou a compaixão - começou a falar-me dos problemas dele e de como se sente sempre descartado pelas pessoas de quem gosta e eu verti três lágrimas interiores em sinal de concordância. There there, mate. O problema foi que eu me comecei a aperceber que, possivelmente, no encontro seguinte ele já me estaria a convidar para ir morar com ele, tal era o nível de carência do moço.

Outro erro fatal foi ter-me tocado - eu detesto que me toquem. E, quando nos sentámos num jardim e ele me tentou abraçar, acho que até me faltou o ar: é preciso que entendam que eu gosto muito de estar sossegadinha a respirar o meu oxigénio em paz, no meu espaço. Não há cá trocas gasosas com conhecidos, não há contacto físico sem confiança a sério. Chamem-me esquisitinha, mas sinto-me só estranha quando sou agarrada por alguém que não me faça sentir nada - adoro abraços sim, mas de pessoas de quem eu goste a sério. E se ele serviu para me dar algum click, foi para perceber que havia alguém que eu estava disposta a abraçar vezes sem conta.

Para me livrar daquilo mas sem querer feri-lo, expliquei-lhe que estava a meio de uma crise, que andava com os sentimentos baralhados e tinha muitas coisas para resolver antes de me poder envolver com alguém. Pensei que tinha resultado - mas ele voltou.

Perguntou-me se já tinha resolvido os problemas - já, e já arranjei mais, obrigada por perguntares! Expliquei-lhe que tinha tido outra pessoa na minha vida, a ver se entendia a indireta, mas nada resulta. Já nem as respostas à base de smiles, e sabe deus o quanto eu odeio que me respondam com smiles.

Temos de combinar alguma coisa!
Smile.
Hoje passei por onde andámos e fiquei com saudades tuas.
Smile.
Gostava de estar contigo.
Smile.

Andamos nisto há algum tempo e ele ainda não desconfia de que eu não vou ter com ele. Porque me tocou - e porque a única coisa de que eu gosto nele... é o gato.

fodilhões vs adoráveis

Não gosto dos tipos que se gabam, dos que apresentam um currículo extenso como prova de que estão mais do que aptos para nos dar a melhor noite das nossas vidas. Não gosto dos que se orgulham de já ter pinado com 86 gajas diferentes, dos que juram a pés juntos que experimentaram todas as posições do kamasutra numa só noite, dos que acham que isso faz alguma diferença na hora de gostar ou não. Aliás, até faz - faz-me gostar menos. Ou não gostar de todo. E fugir a sete pés.

Prefiro mil vezes os que têm noção de que não sabem tudo e absorvem cada pormenor novo como uma aprendizagem que lhes será útil futuramente. Os que sabem ser tudo e mais alguma coisa com a pila bem arrumada dentro das calças porque se sabem capaz de conquistar pelo que são. Gosto do medo, da timidez, do nervosismo. Da inexperiência que impede toda e qualquer pressa e nos deixa instalar confortavelmente sem pressões, sem receios. Gosto dos que não se gabam porque sabem que, no fim de contas, isso é absolutamente irrelevante. E que a inocência, essa sim, é absolutamente deliciosa.

chateei-me.

Na reportagem da sic, sobre a toxicodependência, ouviu-se a dada altura uma mulher a dizer algo do género: como podem ver temos condições muito precárias, é uma vergonha a forma como vivem os consumidores. De alguma forma, isto irritou-me profundamente: não consigo compreender como é que ainda têm a lata de se queixar. Juro que não.

Vivemos num país que só se lembra dos sem abrigo no natal e quando há vagas de frio, que faz cara feia aos refugiados porque, já se sabe, trazem todos um cinto de bombas por baixo da roupa e que julga, à priori, todos quantos cometam a ousadia de ter uma raça ou uma religião diferente - mas se são toxicodependentes tudo bem. Faz-se-lhes festinhas na cabeça e procuram dar-lhes condições para continuarem a fazer aquilo que sabem de melhor: drogar-se.

Desculpem-me o preconceito, mas não consigo compreender. As drogas são uma escolha, quer queiram quer não. Não é algo que não se possa mudar, não é algo de que as pessoas não tenham culpa: é, pura e simplesmente, uma escolha e ninguém é uma vítima de nada.

Se querem ajudar estas pessoas, que tentem a reabilitação - distribuir seringas com sorrisinhos condescendentes é quase um incentivo. Eles não têm de fazer nada porque são só uns coitadinhos: roubam para poder comprar droga, roubam para comer, dormem onde dá, e está tudo bem porque ainda aparece um grupo de pessoas com seringas novas e pancadinhas nas costas. Ninguém tem culpa de ter entrado neste mundo, ninguém sabia onde ia dar. Não faziam ideia de que iam ficar assim.

Acho triste que se apoie mais gente que fez uma escolha errada do que aqueles que não tiveram qualquer alternativa e acabaram na miséria. Acho ainda mais triste que, com toda uma panóplia de doenças que não podemos evitar, se premiem aqueles que abraçam problemas desnecessários. Escolhas.
É tudo sobre isso.

oh, take me back to the start

[não sei deixar de me perguntar se também sentes a minha falta ou se já me substituíste - eu sei que é fácil, demasiado fácil, não precisar de mim. pergunto-me se sou só eu que sinto a falta de encerrar o dia em videochamada contigo ou se isso também te faz sentir que os dias não estão completos. se já apareceu alguém mais fácil e menos complicado do que eu para mostrar o quanto eu não passo de uma perda de tempo. e isso, como tudo o que eu não sei, faz-me sofrer um bocadinho.
quis dar-te tempo. quis que reconsiderasses as hipóteses para que esta não acabasse por ser uma decisão só minha. quis que tivesses a oportunidade de nos encontrar uma saída alternativa. quis que me surpreendesses - esperei por isso estes dias todos. e ainda espero. queremos sempre um final feliz, não é?
mas na vida também é preciso fechar portas, mesmo aquelas que queríamos deixar abertas de par em par para o resto da vida - a tua está entreaberta. está à espera de um desfecho, está à espera da ordem final. e, no fundo, eu começo a assumir qual será. estou a preparar-me para ela. estou a preparar-me para a trancar à chave e esquecer que algum dia vi o que estava do outro lado - porque dói, caramba. e eu não precisava disso.
estipulei um prazo limite na minha cabeça. atribuí uma data de validade a este impasse. decidi até quando estou disposta a ver as luzes através da fresta da porta sem saber se algum dia a voltarei a cruzar. escolhi o dia em que a fecharei de vez se não a escancarares entretanto - e, escolher o dia do adeus, pensar que ele existe sequer, custa-me demasiado. é preciso fechar portas, relembro-me. é preciso - mas fechar a tua é o que menos me apetece fazer agora.
estamos em contagem decrescente.]

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

para sempre

Quando perdemos alguém, começamos a contar o tempo ao contrário para nos enganarmos a nós próprios - inventam-se comemorações, datas significativas, registam-se as últimas vezes no calendário. Talvez seja ridículo para quem assiste de plateia a esta tentativa frustrada de prolongar as memórias, mas faz todo o sentido para aqueles a quem as recordações são tudo o que lhe resta.

Passei o dia a adiar a hora da despedida. Estiquei os minutos até ao fim, contive-me o mais que pude, menti a mim mesma uma e outra vez. Convenci-me de que seria capaz de simplificar: não era um adeus, era um até já agendado para maio, não havia motivo para dramatizar Mas havia. 

Sentei-me na mesma cadeira de sempre e fiquei a vê-la andar pela cozinha. Desabafava sobre o quanto lhe custava deixar a casa dela, e eu tentava esconder o quanto me custava deixá-la ir - confesso que havia uma certa dose de egoísmo em mim. Não queria que ela fosse, apesar de ser o melhor para ela: tinha medo de a perder lá, tão longe de mim, quando eu estava tão habituada a tê-la perto. Não me restam dúvidas de que me doeria vê-la definhar - mas dava tudo por ter aproveitado cada segundo que lhe restava. Com ela.

Abracei-a, por fim. Voltei para trás para a abraçar novamente de cada vez que me tentava ir embora - um ano depois, não sei dizer se sabia que era a última vez que a via, mas acho que não. Temia-o, mas estava em negação: custava-me crer que se lhe pudesse esgotar a energia e a capacidade de lutar contra o filho da puta do cancro. Não queria acreditar que a podia perder. Mas podia, claro que podia!

Da última vez que a vi, ela não olhou para mim - para evitar uma nova dose de lágrimas e de soluços, saíu de casa cabisbaixa para se despedir da vizinha. Lembro-me bem do aperto que trazia no peito - chorei durante horas nesse dia. Chorei a noite toda. Uma parte de mim, estava assustada e com medo de a perder - a outra parte fazia-se de forte e não acreditava. Maio. Maio era já ali. Ela tinha de aguentar até lá - nas horas de desespero uma pessoa apega-se até ao deus no qual não acredita.

Entrei em contagem decrescente nesse dia - queria adiar a derradeira despedida, queria acreditar que tinha tempo para outros abraços, para mais um par de memórias para levar para a posteridade, mais dela. Não tive essa oportunidade - num último golpe irónico, a morte roubou-ma a escassas horas de nos encontrarmos. E, depois de meses de espera, era isto: foi por um triz. Por uma unha negra.

Não me sai da cabeça que estava para viajar no dia anterior; não o quis fazer porque não queria faltar mais um dia às aulas, porque achei que isso era importante. Não me sai da cabeça que, se o tivesse feito, ainda a teria visto - e nunca consegui calar em mim a culpa e a falta que me fez essa despedida. A verdadeira, a derradeira, como se eu algum dia fosse ficar satisfeita. Como se essa fosse a resposta - não há uma maneira possível de nos despedirmos de alguém que vamos amar para sempre.

Faz hoje um ano que me despedi dela. E faz hoje um ano que comecei a sentir saudades também.

*o post, apesar de se referir à despedida, só foi escrito semanas mais tarde.

lontras will be lontras

Em tempos de guerra como estes, apetecem-me doses cavalares de chocolate - mas como esta lontra anda meio obcecada, afoga-se em chá de menta porque cheira a after eight.

esta cinderela precisa de dormir mais.

O que temos de mais certo na vida são as despedidas mas nunca estamos a contar com elas - acreditamos que haverá sempre tempo mais tarde, estendemos-lhe o tapete vermelho e observamo-lo a desenrolar-se diante dos nossos olhos sem o aproveitarmos o suficiente.

É assim que me sinto em relação a ti: guardámo-nos para depois e nunca nos concretizámos. Somos dois otários tão iguais e tão diferentes ao mesmo tempo que não passamos de um par de paradoxos que podiam ter sido mais e não quiseram. Portamo-nos muito mal.

Deixei-te avançar ao teu ritmo - nunca te escondi alguma impaciência, alguma vontade de saltar umas quantas casas, mas quis respeitar-te sempre. Demorei a entender que, no fundo, tens tanto medo de te entregar quanto eu e que era isso que te fazia dar passos pequeninos em direção ao futuro que não fomos - respeitei-os porque acreditei que seria um bom augúrio, que querias algo sólido, que estavas a tentar que a relação que tínhamos não fosse um castelo de cartas à espera de um vendaval. E isso é o que me custa mais: acreditei que teríamos bases fortes.

Querias construir um quase-amor, eu contentava-me com a consumação da atração - as coisas evoluem e não perderiam o sentido nem a razão de ser por fazermos a vontade aos corpos. Querias tudo racionalizado. Querias atribuir valores a sentimentos inquantificáveis, querias rótulos improvisados para não perderes o controlo do que éramos. Eu queria que te tivesses descontrolado, mas deixei-te ir devagar - era mais seguro, ainda que, agora, com o fim à vista, me pareça que foi em vão.

Tu não és perfeito e eu sei disso - mas as coisas de que não gosto em ti nunca ganharam corpo em relação a todas aquelas que, dia após dia, me fizeram gostar um bocadinho mais. As pessoas não são feitas à medida das nossas necessidades, dos nossos gostos, das nossas preferências - gostar de tudo em ti seria um perfeito disparate, mas gostar menos de ti por isso seria ainda pior.

A diferença entre nós é que a minha impulsividade nunca me deixa guardar mágoas para explodir mais tarde - digo o que quero, o que penso e o que sinto na hora, e depois estou pronta para recomeçar. Tu guardas. Arquivas para mais tarde justificar uma mudança de atitude que nunca fizeste questão de declarar - e, acredita que isso é, de longe, o que menos gosto em ti porque não o compreendo. Tal como tu não és capaz de compreender a minha falta de filtros. Ainda assim, gosto de ti. Todos os dias. E sinto a tua falta.

Mentiria se dissesse que não há uma ínfima parte de mim que espera por um plot twist - assumi que tinha acabado de vez, mas ainda espero que uses aquela última hipótese que te dei a nosso favor. Que repenses, que reconsideres, que peses os prós e os contras de todas as decisões possíveis: deixei-te com a faca e o queijo na mão por puro cansaço - e por esperança de que me surpreendas. De que cometas uma loucura - eu valho uma loucura? -, qualquer uma. Que faças algo inesperado. Que me choques, que não me mostres que não tenho alternativa senão receber-te de braços abertos - estou sempre à espera de uma mensagem. Estou sempre à espera de notícias e de que me proves que não estás a fazer o que eu acho que estás a fazer.

O jogo é nosso, as regras são nossas, e nada está perdido até que se decida arrumar o tabuleiro de vez - espero que a próxima jogada te saia melhor. Que empatemos o jogo, porque não faço questão de te ganhar - na dúvida e na pouca esperança, posso jurar-te, se sonhasse que aquela era a última vez que te via, nunca te teria deixado ir embora sem levares um beijo meu no bolso - daqueles a sério, dos que deixam saudades. Dos que te fariam lamentar ter-me perdido.
(lamentarias?)

domingo, 5 de fevereiro de 2017

hoje é domingo

E a ideia de que, qualquer que seja o teu programa, é preferível a estar comigo, quem quer que seja a pessoa com quem estás, é melhor do que eu e, onde quer que estejas, não sentes a minha falta, martela-me na cabeça e dá cabo de mim; eu não precisava de mais nada a deitar-me a baixo, a fazer-me chorar todos os dias, a fazer-me sentir menos que nada. Porque é assim que tudo isto se resume: eu não sou boa o suficiente, eu não valho a pena, eu não valho nada. É isso. Só isso.

(every sunday is getting more bleak, a fresh poison each week)

O mais difícil é sempre a noite - o silêncio que impera num mundo pintado do negro do céu servem-me de metáfora perfeita para o que sinto neste momento. Sento-me na varanda: o vento despenteia-me o cabelo, o chão frio gela-me o corpo, e o coração abranda como se já nem valesse a pena cansar-se mais. É inútil.

As saudades sabem bem quando se sabe que serão encerradas com um reencontro cheio daquilo que falta nos períodos de ausência: calor. Quando não há esperança de reencontro nem de dias melhores, tornam-se corrosivas e matam, lentamente, pedacinhos de nós que não poderemos recuperar porque são parte de um passado recente, do qual ainda não estamos dispostos a abrir mão. Sinto a tua falta todos os dias - e todos os dias me questiono se sentirás a minha também.

Tenho saudades dos pormenores: lembras-te quando não podíamos falar nas videochamadas e escrevíamos num caderno? Faz-me falta isso. Faz-me falta ver o teu ar concentrado a escrever o que não eras capaz de dizer em voz alta. Fazem-me falta os sorrisos embaraçados, as perguntas aleatórias, os pequenos nadas que nos transformaram. Faz-me falta a tua cara de sono e o teu beijinho antes de ires dormir. Mas acabou. Tudo isto - e não consigo deixar de me questionar se isso te causa tanta dor quanto a mim. Também não consigo deixar de dar resposta à minha própria pergunta - se doesse, não estaríamos aqui.

Não temos salvação possível: somos duas rochas duras que não se dispõem a ceder. Nenhum de nós, nem eu nem tu. Nenhum. E hoje, a única coisa a manter-me acordada deveria ser a ansiedade de te abraçar amanhã. Deveria ser a vontade de me perder no teu abraço, de perder a noção do tempo fora do mundo que éramos. Deveria ser, enfim, esse laivo de alegria que me permitiste durante este tempo, a não me deixar adormecer - não isto. Não assim.

Quem me dera voltar ao início - tive medo, sim. Foste um acidente na minha vida; eu, que nunca gostei de vidas traçadas a régua e esquadro em papel milimétrico, tinha tudo decidido. Tinha um plano onde não entrava mais ninguém - depois, apareceste. Fintaste-me as decisões e instalaste-te devagarinho, como quem não quer a coisa, mas como quem também já não quer sair mais. Acreditei que não fosse por acaso: batias tão certo que parecia ser a melhor maneira possível de me desviar da rota pré-definida. 

Voltava a esse início, à alegria de ter alguém novo a fazer-me tão bem. Voltava a sentar-me contigo no mesmo banco e a ficar a observar o pássaro, o mesmo pássaro de sempre ou outro qualquer, a saltitar à nossa volta. Voltava a passar horas abraçada a ti. Tentava concretizar-nos desta vez - tentava aniquilar todos os vestígios de mágoa, todas as dúvidas, toda esta necessidade de fugir.

Chegámos a um beco sem saída: eu não quero voltar para trás e tu não queres construir uma estrada nova. Uma parte de mim sonha todos os dias com um desfecho diferente, com um reencontro mais feliz, com um abraço, com um recomeço - a outra parte já se convenceu de que não te voltará a ver e chora as saudades de hoje e as de amanhã também. À medida que as horas passam, esta certeza ganha corpo na minha cabeça: acabou. E custa-me muito aceitar isso.

Por mais pessoas que conheça, sei que nenhuma será igual a ti - depois de tanto tempo, transformaste-te na minha nova bitola. Elevei a fasquia, transformei-te no mínimo aceitável, nunca menos incrível e esquisito do que tu - vais fazer-me falta para sempre. Juro que vais.