É caso para dizer: o problema não és tu, sou eu. Sou mesmo, de todas as formas possíveis. Não sei sentir assim - aliás, o meu problema não está no sentir; sempre senti tudo com tamanha intensidade que parece sempre que vou morrer de qualquer coisa - de alegria, de tristeza, de raiva, de amor. Se calhar também se morre de amor, não sei. Mas o meu problema está em admitir que sinto, em parar de me armar em cobra.
Nunca me senti tão perdida. É mentira, vá - nunca sei ao certo o meu lugar no mundo, e já me senti muito perdida de outras vezes, mas agora que fazem parte do passado, nada me parece tão mau quanto o presente. Paciência. Daqui a uns meses ainda hei de perceber que também isto não foi nada de especial; é tudo uma questão de tempo, e a culpa é minha e dessa minha sede de dramas que me preencham os dias. Preciso de pontos de interrogação, preciso de reticências, e tu és um poço deles. Talvez seja por isso que eu gosto tanto de ti. Ou talvez não.
Tentar justificar um sentimento é mais ou menos o mesmo que tentar explicar o sabor da água - mas gosto de acreditar que vale a pena tentar. Eu também nunca compreendi porque raio alguém haveria de achar um alívio enorme tirar o soutien mal chegam a casa, porque odeio andar com o mamaçal às soltas, mas também duvido que alguém compreenda o alívio que é para mim ter-te sentado ao meu lado - mas é mesmo isso que eu sinto. Alívio. A bonança a seguir à tempestade, o regresso a casa depois de uma viagem longa. Como quando abandonámos um sítio bonito onde temos medo de não saber voltar, de não encontrar o caminho de volta - e eu achei que te tinhas ido de vez.
Seria um bocado triste não encontrar o caminho de volta, logo na altura em que descobri que eras o meu lugar preferido. Desculpa. Desculpa-me se isto não te fizer sentido, se não o conseguires entender - e se entenderes também. Não sei quem és para mim. Uns dias és um porto de abrigo e noutros és um cais perigoso, mas é sempre em ti que eu decido atracar - gosto das duas facetas de igual modo. Talvez até goste mais dessa vertigem dos dias em que não sei bem o que fazer, e do quanto me obrigo a manter-me calma para que não adivinhes o turbilhão de sentimentos que tens o poder de me provocar. Acima de tudo, temo-os, porque não sei aceitar a vulnerabilidade de quem deixa a nu tudo quanto sente - e desculpa-me por isso também. Desculpa-me se, na ânsia de esconder, acabo por ser demasiado distante, demasiado fria, mas eu sou mesmo assim - sou essa carícia meia feita, sou essa palavra meia dita. E um bocado estúpida, também.
No outro dia, tive de me obrigar a conter o impulso de te abraçar - depois de tudo, fiquei com medo de que, se te agarrasse, fugisses de vez, e então prefiro fazer-me de indiferente a mostrar-te o quanto me importo contigo. O quanto me preocupo quando não te vejo - e o quão triste fico sempre que não estás por perto. Parece clichê, mas fico mesmo, ainda que não ousasse pedir-te que ficasses. Quero que fiques porque queres e, não querendo, não te obrigo - quero, acima de tudo, ter-te por perto. Não saberia nunca dizer-te o quanto te admiro, e talvez seja por isso que o meu coração, com tendências suicidas, não se controla quando te vejo aproximar. Não sei - mas sei que é por isso que baixo o olhar sempre que te vejo vir na minha direção; o pensamento é sempre o mesmo - está um rapaz incrível a olhar para mim.