No acidente, fui presenteada com uma amnésia para o sucedido que me custou a entender e, sobretudo, a aceitar - reconhecer um espaço vazio na minha memória, sabendo que estive sempre consciente, era difícil. Queria entender, queria saber o que aconteceu. Queria lembrar-me. Sentia-me realmente frustrada, como se tudo o que eu quisesse saber estivesse ali, escondido algures, nos recônditos de uma cabeça confusa.
Percebi mais tarde que este foi um mecanismo de defesa. Eliminei as memórias com as quais não sabia lidar - bem vistas as coisas, estou grata por isso; creio que o trauma seria bem maior se me recordasse de tudo o que vivi naqueles minutos.
Mas dei por mim a desejar poder usar essa memória seletiva noutros campos. Desejei poder acordar amanhã e não fazer ideia de que te tive na minha vida durante dois anos, como se bastasse apagar uma pasta com tudo aquilo que te é referente. Esquecer este duelo entre o coração e a razão - esquecer até que fui capaz, finalmente, de dar a vitória à razão. Esquecer que existes. Tudo o que eu queria era ser capaz de seguir em frente sem que lembrar-me de ti me fosse tão doloroso - sem ter saudades tuas.
Se não me lembrar, deixa de doer, não é?
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