domingo, 29 de janeiro de 2017

sou boa nisto.

Apanhaste-me desprevenida: aconteceste numa altura da minha vida em que eu tinha prometido a mim mesma que não deixaria acontecer, mas não tive como evitá-lo. Aproximaste-te de mansinho, despretensiosamente, e soubeste manejar o meu coração com as pontinhas dos dedos, tal qual deve ser manejado; tinhas as palavras certas, os sorrisos certos, os abraços certos. Tudo em ti batia tão certo que eu devia ter percebido que nunca poderia durar muito. Correndo o risco de me fazer feliz, nunca poderias ter ficado na minha vida - vinte e um anos de histórias falhadas já me deviam ter feito aprender isto.

Eu já tinha as palavras na ponta da língua - não as ensaiei nem fantasiei sobre discursos bonitos, mas sabia que as queria dizer. Acordei com a resposta à pergunta que fiz a mim mesma vezes e vezes sem conta; em tempos, nem julguei que me fosse possível por me sentir presa num emaranhado de pontas soltas de um passado que ainda mal sabe que o é. Mas foi: conseguiste-o. Conseguiste puxar-me para cá e conquistar-me num tempo presente, isento das amarras de um ontem mais longínquo do que a minha memória deixa parecer.

Tinha as palavras na ponta da língua, mas arrumei-as outra vez - há uma certa dose de humilhação a correr-me nas veias, uma oferta de mim para mim, por ter acreditado que, por uma vez, o que sinto poderia ser recíproco. A culpa não é tua, mas eu sou tão cheia de sentimentos que, no que toca ao gostar, exagero no verbo e chego a ser desleal para comigo mesma - achei-te capaz da mesma atrocidade, imagina só. Por momentos, senti as tuas mãos nas minhas costas e os teus beijos, cada vez mais intensos, como sinal de que estávamos a saltar juntos para um capítulo novo. Erro meu, desculpa-me por isso.

Não penses que me dói menos por ser a que vira as costas e bate com a porta - perder-te dói-me mais do que possas imaginar, mas não posso ficar aqui. Não posso continuar a permitir-me esta ansiedade boa de voltar a correr para ti se não vou ter direito a um buraco na tua agenda. Não posso continuar a criar a ilusão de que significo algo mais do que aquilo que algum dia poderia significar - e é por isso que nos despedimos aqui.

Certa estou de que não sentirás a minha falta. Os meus braços são facilmente substituíveis por outro par onde não reste espaço para desculpas nem para demoras, e as minhas palavras perderão o significado com o tempo também - mas eu vou sentir a tua como quem perde uma das poucas coisas que lhe dava ânimo.

Encerro o capítulo e fecho o livro que conta a história de um caso acidental - hoje bato com a porta com a certeza de que me encerro do lado errado.
Era contigo que eu queria ficar, mas não posso.

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