É uma casa vazia, fria, escura: visto roupa demasiado grande para o meu tamanho, prendo o cabelo no alto da cabeça e entrego-me à solidão desses dias que são tão ou mais gelados no meu peito do que do lado de lá destas paredes que me protegem. Mas hoje não é um dia vazio, frio, escuro.
O silêncio, pontuado pelo crepitar da lareira, não é ensurdecedor como nos outros dias. O frio enregela-me as pontas dos dedos, mas não o coração: tenho memórias quentes para me acalentar o espírito ansioso por dias bons, por dias melhores. Tenho recordações doces para me lembrar de que nem tudo é mau; tenho palavras, frases, guardadas no ouvido para escutar sempre que me sentir a afundar outra vez.
Era uma casa vazia, fria, escura: agora cheira a pão acabado de torrar e a café forte, quente, amargo. Já não parece vazia, já não parece fria, e a luz está algures, dentro de mim. Hoje não é um desses dias de solidão - visto roupa demasiado grande para o meu tamanho, prendo o cabelo no alto da cabeça mas não me entrego à tristeza; fecho os olhos, sorrio. O que sinto não é felicidade, é paz - e esse já é um motivo mais do que válido para continuar. Para não me deixar perder.
Vai correr tudo bem.
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