Lembro-me do tempo em que as minhas fugas constantes me faziam sentir orgulhosa de mim mesma: aprendi a mascarar o sofrimento de ódio e a fazer de conta de que não me importava por estar cada vez mais sozinha. Importava-me, claro; mas tinha a ideia de que, não me conhecendo, ninguém me poderia voltar a fazer mal. Nunca reparei que era eu quem me destruía mais. Sempre.
Não desaprendi a fugir: arisca, gatita de rua, dou por mim a tentar escapulir-me sempre que alguém ameaça fazer-me sentir alguma coisa. Perco a alegria por medo de um sofrimento que poderia ou não existir, encaro cada talvez como um não, como uma barreira intransponível, tão alta e impossível quanto aquela que construí à minha volta. Não luto pelas pessoas, não tento uma e outra vez - dou-me por vencida à partida porque nunca me senti boa o suficiente para vencer, fosse o que fosse.
Saio sempre como quem não quer voltar, e volto sempre como quem nunca mais quer sair; não quero, no fundo sei-o bem hoje, agora, que não me sinto a afogar por esse medo irracional que tenho na maior parte do tempo. O erro está em mim e é insustentável esperar que alguém aguente entrar numa vida que parece acontecer em círculos. Não posso pedir que me entendam se nem eu sou capaz de o fazer.
Queria saber ficar. Queria conseguir aceitar o presente e as incertezas do futuro sem tomar a minha infelicidade como certa. Sem me basear em tudo o que já me aconteceu de mau para me convencer de que nada do que poderá advir daqui será bom. Queria ter coragem para me continuar a perder num abraço que me tem feito tão, tão bem... por medo de gostar demasiado. Por medo de me viciar e de o perder.
É assim, exatamente assim, que tenho perdido boas pessoas.
Sem comentários:
Enviar um comentário