terça-feira, 24 de janeiro de 2017

personagens

Foram as temperaturas negativas a fazer-me desistir da ideia de vaguear pelas ruas da cidade para queimar o tempo: enregelada e doente, achei que seria boa ideia preencher com cafeína as horas de sono em falta.

Lontra e pobre que só eu, quis crer que nada melhor do que a pastelaria do supermercado, onde me refugiei; estava um calor quase insuportável comparado com o frio da rua. Pedi um café e sentei-me numa mesa que julguei já estar vazia; não estava. Vendo-me afastar o jornal para me sentar, fui fulminada pelo olhar do ancião que tinha ido buscar a segunda ronda do pequeno almoço.

Quando o vi, julguei-o inglês mas, afinal, é produto nacional: tinha um kispo roxo vestido e, por cima, um casaco polar verde alface; esta imagem não seria de estanhar, tendo em contra os dois graus negativos, não fosse o homem estar... de calções. Arrepiei-me só de olhar.

Já sentado à minha frente, porque lontra que é lontra prefere partilhar um momento a sós com um octagenário a mudar de lugar, continuava a olhar-me como se fosse louca. Comecei então a reparar no tabuleiro: cheguei à conclusão de que o bicho já ia na segunda meia de leite e um bolo (ou pão?) qualquer. Não contente, foi buscar um balde de iogurte com pedaços, e devorou-o ali.

O auge foi quando trincou uma banana para a descascar - dizia-me a minha mãe que eu nem a descascar bananas sou normal porque começo pela ponta errada: estou rendida ao método da trinca na ponta.

Vim-me embora antes de perceber se ele ia comer a laranja e beber os dois copos de água que também tinha no tabuleiro - mas fiquei fascinada. Aquele homem consegue comer mais ao pequeno almoço do que eu num dia inteiro, e olhem que eu gosto bastante de comer.

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