segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

é isto

Há muitas coisas que eu tenho feito erradas nos últimos meses: não por querer, não por não estar sedenta de um recomeço, não por gostar de me sentir assim. Talvez por ainda não ter conseguido ultrapassar tudo. Talvez por estupidez. Não sei.

Utilizo os acontecimentos do último ano para justificar as minhas atitudes, numa altura em que já os deveria ter aceitado e seguido em frente, mas não consigo. Na realidade, não sou capaz de me reconhecer: há meses que não sou capaz de ler. A música entedia-me. Não tenho paciência para os filmes, mesmo os que queria ver há anos. E escrever... obrigo-me para não deixar morrer o cinderela, mas não sinto a minha alma aqui.

A verdade é que não passou um único dia em que eu não tivesse pensado no acidente. Não houve uma única vez em que tivesse pegado no carro sem sentir receio, uma única curva em que não me tenha lembrado daquela em que me despistei. Em que não tenha imaginado isso a acontecer outra vez. Passou quase um ano e eu já não devia usar isto como justificação para o meu mal estar, mas uso - ainda me consome.

Não há um único dia em que não pense na minha tia; da minha janela, vejo uma casa com muitas, tantas, janelas fechadas - e dói. Há dias em que dói menos, outros dói como se tivesse acabado de saber da morte dela: ainda não soube aceitar a perda. Ainda não me habituei à ideia. Ainda choro por isso.

Também não recuperei de todos os dramas com as pessoas - não consigo deixar que alguém se aproxime de mim sem sentir medo de ser só mais do mesmo. Estou cansada de me sentir uma transição, um entretém - mais estação de comboios, menos cais. Sempre que alguém chega à minha vida, sempre que sei que pode fazer-me sentir alguma coisa, lembro-me de todos os que se foram embora. Dos que me deixaram acreditar que era especial e desapareceram. Dos que foram ficando até aparecer alguém melhor - no amor e na amizade, eu nunca sou suficientemente importante para ser a escolhida. Morro de medo de me sentir descartável outra vez - e passo a vida a justificar a minha atitude doentia com estes medos, com estas inseguranças.

Sou má a esquecer. As pessoas, as coisas, os traumas. Sou má a esquecer porque nunca sei ser pela metade, nunca sei gostar só um bocadinho, nunca consigo não me entregar completamente: sinto que há algo de errado em justificar a minha angústia com tudo isto. Sinto que já deveria ter sido capaz de seguir em frente, de ver as coisas boas - de viver os momentos sem medo de como me irei sentir depois. De me entregar sem estar sempre à espera de que isso me venha a fazer sofrer.

Estou tão cansada da minha atitude quanto imagino que todos os outros estão - mas não consigo. Não consigo mudar isto. Não consigo deixar todos estes acontecimentos de lado e ser feliz num momento em que não tenho (quase) nada que me pudesse entristecer - e fico, invariavelmente, ainda mais triste por isso mesmo.

2 comentários:

VerdezOlhos disse...

Compreendo-te e revejo-me em muitas atitudes. Infelizmente com a agravante que eu não tenho razões palpáveis que o possam justificar. Eu não consigo muitas vezes afastar a tristeza que me fica puxando para o fundo.
Acho que às vezes precisamos de nos render e pedir ajuda. Seja a um profissional, seja a um amigo, um familiar, seja a uma actividade que nos faça bem. Então só te posso enviar força e desejos de que o melhor chegue para ti.
Beijinhos

ernesto disse...

Espero o mesmo para ti. Que essa tristeza desapareça.
Obrigada! Beijinho