Não guardo mágoas de ninguém. Sofro tudo na altura, como deve de ser, e depois sigo em frente, como se nada tivesse acontecido - quase me esqueço, quase. Talvez me lembre de vez em quando. Talvez existam memórias que ainda me fazem saltar as lágrimas aos olhos, mas não odeio, não repugno, não fico ressentida. O que lá vai, lá vai.
Com ele, eu achei que seria diferente por ter sido, provavelmente, a pessoa que mais me magoou até hoje, e cheguei a jurar a pés juntos que aquilo tinha sido um balde de água fria, que nunca na vida me voltaria a apaixonar. Que o tinha esquecido como quem arranca um penso rápido de uma só vez - dói na altura, mas passa. Era mentira, claro. Foi mentira desde o início, mas eu nunca me apercebi disso.
Apaixonei-me por outro, por aquele que ainda hoje me parece ser das melhores pessoas que eu algum dia conheci. Tive muito mais contacto do que algum dia tive com o joão mas, mesmo assim, percebi meses depois que nunca deixei de pensar nele nas horas vagas. E, quando a história com o tal acabou, quando a arquivei no armário das histórias bem resolvidas, aconteceu de repente.
Não demorou muito. Não demorou nada, aliás. Tinha prometido a mim mesma que não me voltava a apaixonar por ele, mas não tinha definido nenhum tipo de punição para o caso de nunca o ter chegado a esquecer - e então, aconteceu.
Faz hoje cinco meses - quem me dera não sofrer tanto de boa memória. Há precisamente cinco meses, era sexta feira e nós estávamos os dois na mesma discoteca - apesar de não estarmos juntos, passamos a noite colados um ao outro. Umas vezes, provocado por mim. Outras, por ele.
Nunca soube explicar o que aconteceu nessa noite, nem porque é que isso me afetou ao ponto de quase nem ter conseguido comer nos dias seguintes. Acho que fiquei assustada. Não esperava aquela avalanche de sentimentos a apoderar-se de mim outra vez, não esperava dar por mim a desejá-lo daquela forma, mesmo depois de tudo. E eu queria ter-lhe fugido, queria ter sabido resistir - mas de cada vez que olhava à volta, via-o procurar-me com o olhar, via-o demorar-se em mim. Vi cada réstia de sentimento a incendiar-se de novo.
Faz hoje cinco meses. Cinco meses e uns dois ou três anos, para ser clara, que eu me (re)apaixonei por ele, o errado, o conas, o domável, o anormal que nem me consegue falar durante mais de um minuto seguido. Faz hoje cinco meses que eu percebi que, por mais que viva mil anos, nunca terei nenhuma história igual a esta, nunca nada será tão complicado de explicar e tão simples de sentir quanto isto. E mesmo que não sejamos a pessoa certa um para o outro, mesmo que, mais tarde ou mais cedo, a vida nos separe e isto não seja mais do que uma memória confusa, agora eu tenho de tentar fazer alguma coisa com o que temos - porque sei que, de todas as pessoas, é a ele que eu escolho sempre. E todos temos um joão, essa pessoa a quem reconhecemos os erros mas, ainda assim, estamos certos de que, por mais gente que conheçamos ao longo da vida, nunca nada será igual ao que teria sido com ele.